Título: PIB: CRÍTICA DE ECONOMISTA A CÁLCULO CRIA POLÊMICA
Autor: Cássia Almeida e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 05/12/2005, Economia, p. 19
Bacha diz que metodologia das contas nacionais é uma caixa-preta, mas analistas não vêem erro nos números do IBGE
RIO e BRASÍLIA. As críticas do economista Edmar Bacha à forma de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todas as riquezas no país) usada pelo IBGE, instituto que calcula o índice, publicadas ontem na coluna de Ancelmo Gois, causaram polêmica. A queda de 1,2% no PIB no terceiro trimestre, frente ao três meses anteriores, surpreendeu analistas. As projeções eram de uma queda entre 0,2% e 0,5%. Bacha atribui o erro a uma falta de transparência do instituto no cálculo das contas nacionais.
Estudiosos afirmam que não há caixa-preta nos dados do IBGE, mas afirmam que o instituto sofre com a qualidade das fontes primárias de dados.
¿ Não há caixa-preta. A metodologia do instituto está publicada. O que acontece é que o mercado financeiro faz suas apostas e, quando é surpreendido, acha que a realidade está errada. Houve a queda esperada ¿ comentou Claudio Considera, professor da UFF e ex-diretor do Departamento de Contas Nacionais do IBGE.
Considera diz, porém, que há falta investimento em pesquisas econômicas pelo IBGE. O mesmo comentário é feito pelo economista Francisco Pires de Souza, assessor da área de Planejamento do BNDES:
¿ O IBGE segue metodologia internacional, mas o próprio cálculo de investimento pode melhorar. Não resta dúvida sobre a desaceleração da economia. Comparando o crescimento do PIB de 4,9% em 2004 contra as projeções para este ano entre 2% e 2,5%, é uma queda grande. Além disso, os dados serão revistos.
Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, acredita que o debate é mais político do que técnico. Para ele, há uma tentativa que reduzir o impacto negativo do desempenho mais fraco da economia:
¿ São cálculos matemáticos simples. O IBGE atualiza a metodologia e base de dados sempre. Com juros, carga tributária e desemprego altos, seria surpresa se o PIB tivesse crescido.
Dentro do governo ainda não há consenso sobre o real desempenho da economia no terceiro trimestre. Há desconfianças de que os números da agricultura estejam superestimados. Mas fontes do Banco Central, do Planejamento e do Palácio do Planalto afirmam que isso não significa guerra aberta contra o IBGE. Integrantes do BC e da área econômica têm argumentado que uma avaliação final só ocorrerá com o resultado do PIB anual. O presidente Lula tem sido aconselhado a se concentrar no fato de que houve uma desaceleração e que é preciso fazer ajustes na condução da política econômica para o país voltar a crescer.