Título: FILHO DE ALENCAR: DEPÓSITO É COISA NORMAL
Autor: Ricardo Galhardo e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 07/12/2005, O País, p. 3

Se tivessem pagado em moedas de um centavo seria obrigado a aceitar¿, diz Josué

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Depois que o secretário do PT, Paulo Ferreira, disse que a denúncia de caixa dois para pagar à Coteminas não era novidade, ontem foi o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho do vice, José Alencar, que disse não ter se surpreendido com o fato de o PT ter feito um pagamento de R$1 milhão à empresa em dinheiro vivo. Perguntado se pagamentos tão vultosos são comuns no meio empresarial, Josué respondeu:

¿ Acontece. E digo mais, a legislação obriga que as transações sejam feitas em moeda nacional corrente. Se tivessem pagado em moedas de um centavo, seria obrigado a aceitar.

Há cerca de três semanas, Josué esteve na sede do PT em São Paulo para cobrar a dívida de R$12 milhões do presidente do partido, Ricardo Berzoini. Na ocasião, ele informou à direção petista sobre a situação da dívida, já descontado o depósito de R$1 milhão. Berzoini ficou de apresentar uma proposta factível para pagamento.

¿ Berzoini ficou de apresentar uma forma de pagamento diferente da sugerida pelo ex-presidente Tarso Genro (parcelar em 48 vezes). Esta nova forma seria mais curta, de modo que houvesse certeza de que o PT pagaria ¿ disse o presidente da Coteminas.

Segundo Josué, o cálculo incluía o abatimento de R$1 milhão:

¿ O depósito era de conhecimento do PT. É uma conta simples que pode ser feita em papel de pão. A dívida original era de R$11 milhões e estava vencida há um ano. Se aplicarmos a menor taxa de juros do mercado, chegaremos em 20% ao ano. Com isso, a dívida sobe para R$R$13,2 milhões. O valor que apresentei foi de R$12 milhões. Então é fácil supor que houve um abatimento de R$1 milhão.

Em 2004, PT encomendou 2,75 milhões de camisetas

A assessoria do PT confirmou a reunião entre Berzoini e Josué, mas não soube informar se o petista sabia do depósito antes de o caso ter chegado à imprensa. Ontem a Coteminas divulgou nota na qual apresenta documentos que detalham a dívida.

Em setembro de 2004, o PT iniciou encomendas que chegaram a 2,75 milhões de camisetas para as campanhas municipais. O custo era de R$11,031 milhões, a serem pagos em duas parcelas em novembro de 2004 e janeiro de 2005.

Na época do vencimento, o então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, alegou falta de recursos. Os pagamentos foram adiados para março, abril e maio de 2005. Àquela altura, os encargos tinham elevado a dívida para R$11,9 milhões. Em maio, sem dinheiro em caixa, o PT depositou R$1 milhão. A operação foi feita pela coordenadora administrativa do PT, Marice Correia Lima, e não pela ex-secretária de Delúbio Solange Oliveira, como desconfiavam integrantes da CPI dos Correios. Em outubro, Tarso Genro propôs o parcelamento, recusado pela Coteminas.

A CPI dos Correios deve votar amanhã requerimento para quebrar o sigilo bancário da operação de depósito de R$1 milhão feita em maio deste ano na conta da Coteminas. O depósito foi feito para pagar parte de uma dívida do PT com o grupo, um dos maiores do setor têxtil. Os integrantes da CPI querem descobrir se o dinheiro saiu do caixa dois do partido, organizado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares.

¿ Com a quebra do sigilo, pegaremos quem depositou o dinheiro e aí pegaremos a origem ¿ afirmou ontem o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS).

Osmar Serraglio pede informações à Coteminas

Serraglio enviou ofício à Coteminas pedindo informações das operações de compra e venda realizadas entre a empresa e o PT.

¿ Eles não podem alegar que não podem informar porque os sigilos do PT já estão à nossa disposição ¿ justificou Serraglio.

Serraglio enviou outro ofício à Polícia Federal pedindo uma diligência para tentar identificar na Coteminas o funcionário que recebeu a quantia de R$1 milhão.

¿ Se o PT não registrou o pagamento, estamos tendo uma confissão. Mais uma campanha suspeita, irrigada com caixa dois. Que eleição foi esta?

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