Título: CPI TAMBÉM APURA ORIGEM DO DINHEIRO
Autor: Ricardo Galhardo e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 06/12/2005, O País, p. 3

Comissão quer quebrar sigilo bancário da operação para ter detalhes sobre depósito

BRASÍLIA. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), também pediu ontem à Polícia Federal que ajude a identificar a origem do R$1 milhão depositado em 17 de maio, em dinheiro, numa conta da Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar. E o relator adjunto da CPI, Eduardo Paes (PSDB-RJ), pedirá a quebra do sigilo bancário da operação para ter acesso aos detalhes do depósito. Ele espera que a comissão vote a proposta ainda hoje.

Ontem, Paes já havia solicitado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informações relativas as movimentações feitas pelo PT. O depósito, entretanto, segundo informou o Coaf à CPI, foi feito por um funcionário da própria Coteminas.

¿ Estou solicitando à Polícia Federal que identifique quem entregou o dinheiro na Coteminas. Isso é fundamental para fazermos o elo com a origem ¿ disse Serraglio.

¿ A quebra do sigilo servirá para descobrirmos quem é o funcionário e convocá-lo. Daí vamos tentar descobrir quem repassou e de onde veio esse dinheiro ¿ completou Paes.

Operação com Coteminas não aparece nas contas de Valério

Para Serraglio, a descoberta de que parte de uma dívida de R$12 milhões que a Coteminas teria para receber do PT foi feita desta forma abre nova frente de investigação sobre a origem do dinheiro que abasteceu o caixa dois do partido. A operação, segundo Serraglio, é a maior em termos de movimentação de dinheiro em espécie entre as apuradas pela CPI. O pagamento não aparece em nenhuma das contabilidades apresentadas pelo empresário Marcos Valério de Souza, que alega ter feito empréstimos nos bancos BMG e Rural no valor de R$55 milhões para repassar os recursos ao PT.

¿ Evidentemente, o caixa dois do PT não pode ser limitado a Marcos Valério. Continuamos atrás de origens privadas de recursos. Essa pode ser uma das fontes ¿ afirmou Serraglio.

O deputado pretende pedir que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares seja ouvido novamente na PF e que seja investigado se a funcionária do PT Solange Pereira de Oliveira foi a responsável pela entrega do dinheiro à Coteminas. Da empresa, Serraglio pretende ainda pedir informações sobre suas operações com o partido:

¿ Estamos autorizados a investigar o PT. Queremos da Coteminas todas as informações referentes ao PT.

Integrantes da CPI dos Correios também ficaram irritados com a demora para que a comissão tomasse conhecimento desta operação. O depósito foi feito em maio e informado pelo Bradesco ao Coaf em 5 de agosto. Sete dias depois, o Coaf comunicou o Ministério Público Federal de que havia sido feito o depósito. Os deputados lamentaram, entretanto, terem sido surpreendidos com a informação nos jornais do fim de semana.

Já o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) vai detalhar hoje na CPI todas as operações financeiras que deram prejuízo a 14 fundos de pensão de estatais. Evitando adiantar o valor total desse prejuízo, o nome das corretoras ou dos políticos envolvidos, o sub-relator de fundos de pensão disse ter encontrado indícios de lavagem de dinheiro, que atingem tanto o governo passado como o atual:

¿ Pretendo detalhar as operações no mercado de derivativos (BMF) e de títulos públicos que fugiram do padrão, repetiram-se em diversos fundos e deram prejuízo ou um lucro bem abaixo da expectativa. Posso afirmar que um montante expressivo de recursos foi alvo de má gestão ou má-fé, já que temos indícios de que algumas operações possam ter sido usadas para lavagem de dinheiro.

As investigações da CPI analisam operações realizadas entre 2000 e 2005. O pefelista garantiu, no entanto, que não pretende fazer qualquer ilação política em sua apresentação, que poderá acontecer a portas fechadas, já que fará menção a dados sigilosos.

¿ Diante dos números não há o que se discutir ¿ observou.