Título: Apoio de Cesar a Serra incomoda PSDB e PFL
Autor: Lydia Medeiros e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 06/12/2005, O País, p. 5

Aécio recomenda calma ao prefeito do Rio e pefelistas dizem que continuam apostando na candidatura própria

BRASÍLIA, SÃO PAULO e TERESINA. O apoio antecipado do prefeito Cesar Maia ao prefeito de São Paulo, José Serra, como candidato tucano à Presidência da República, incomodou tanto o PFL quanto o PSDB. O governador de Minas, Aécio Neves, também cotado para a disputa no PSDB, lembrou que o partido não decidiu quem concorrerá à sucessão do presidente Lula e recomendou paciência a Cesar.

¿ Fica claro que o prefeito Cesar Maia sinaliza que o PFL apoiará uma candidatura do PSDB. Mas ele sabe que há um tempo certo para essa discussão e que caberá ao PSDB escolher seu candidato que, creio, terá o apoio e o mesmo entusiasmo do prefeito, qualquer que seja a decisão ¿ disse Aécio.

Na bancada do PFL na Câmara, as declarações de Cesar foram contestadas até pelo líder, filho do prefeito, deputado Rodrigo Maia (RJ). Ele defendeu candidatura própria seja quem for o escolhido do PSDB: Serra, Aécio ou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Cesar reafirma apoio a Serra e depois volta atrás no Piauí

No PFL, a avaliação foi de que Cesar agiu de forma açodada ao afirmar que Serra é um candidato fortíssimo e ao anunciar que, com ele no páreo, desistiria da disputa. No domingo à noite, ao chegar a Teresina para participar do Fórum Regional organizado pelos líderes do partido no Piauí, Cesar reafirmou que desistiria da disputa por Serra.

Porém, após longa conversa com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC) e com o líder no Senado, José Agripino Maia, ontem de manhã, Cesar discursou durante o encontro do partido contra a hegemonia paulista na Presidência:

¿ Os conflitos entre PT e PSDB em São Paulo se transformaram em conflitos nacionais. Percebo uma exaustão da hegemonia de São Paulo ¿ disse Cesar, que chamou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de ¿irresponsável e incompetente¿ na condução da economia.

O PFL lançou o nome de Cesar no início do ano na tentativa de ocupar o espaço político dominado pelo PT. Cesar percorrer o país em reuniões partidárias para defender a idéia.

A declaração de Cesar provocou ontem mal-estar no ninho tucano paulista. Em evento ao lado de Serra, Alckmin não escondeu o descontentamento:

¿ O Serra tem dito que não é candidato. Mas eu não posso falar por ele. Perguntem a ele ¿ disse Alckmin, irritado.

Serra, sorridente, retomou o velho discurso de que as eleições para presidente devem ser discutidas só no ano que vem. E agradeceu o apoio de Cesar:

¿ É uma opinião importante do grande administrador da cidade do Rio. É uma opinião pessoal dele, no que se refere a mim. Agradeço os comentários positivos. Isso não significa que tenhamos uma candidatura lançada ou um acordo entre partidos, é coisa de entendimento entre partidos mais adiante.

Um dirigente do PSDB paulista recebeu com ressalva o apoio de Cesar a Serra:

¿ Parece estratégia para pôr ainda mais lenha na fogueira das vaidades em que se transformou a discussão sobre o candidato do PSDB para 2006.

O prefeito e o governador estiveram ontem num Centro Educacional Unificado (CEU), onde assinaram convênios em parceria para implantação de Fábricas de Culturas. Sentados lado a lado na cerimônia, Serra parecia mais à vontade, sorrindo para os fotógrafos. Alckmin estava irritado e tentou por várias vezes evitar o assunto:

¿ Todo o apoio do PFL para o PSDB é muito bem-vindo, mas não vou entrar nessa discussão ¿ disse Alckmin, que, contrariando seu estilo habitual, deu a entrevista por encerrada:

¿ Já falei o que tinha para falar de política.

Tucano nega articulação para pôr fim à reeleição

Assim como na campanha à Prefeitura de São Paulo, Serra fez um discurso voltado para as parcerias com o governo do estado. Listou os programas em que as duas administrações tucanas atuam em conjunto e fez elogios a Alckmin:

¿ O governador, em vez de construir novas unidades, colocou os recursos nos CEUs, numa demonstração de desprendimento político. (...) Alckmin e eu somos servidores do povo. Tem partido que chega ao poder para se servir do povo, mas nós não fazemos isso ¿ afirmou o prefeito, negando ainda articulações com Aécio Neves para aprovar o fim da reeleição para cargos majoritários em todo o país.

¿ Isso seria bom para o país, porque acho que a reeleição não deu certo. Mas só valeria a partir de 2007. Não mudaremos a regra no meio da partida e não há nenhuma articulação especial nesse sentido ¿ ponderou o prefeito de São Paulo.

COLABOROU Efrém Ribeiro