Título: Governo alemão rompe acordo de cooperação nuclear com o Brasil
Autor: Graça Magalhães-Ruether
Fonte: O Globo, 12/11/2004, O País, p. 8
O governo alemão resolveu romper o acordo de cooperação nuclear com o Brasil, assinado em 1975. Segundo um porta-voz do Partido Verde, que faz parte da coalizão de governo, o Ministério das Relações Exteriores enviou ao governo brasileiro já há alguns dias uma nota na qual expõe a posição alemã a favor da suspensão da cooperação nuclear.
¿ Os verdes não podem ser contra a energia nuclear no próprio país e fomentar a mesma tecnologia no estrangeiro, e ainda mais num país em desenvolvimento ¿ disse o porta-voz.
Desde que assumiu o governo, numa aliança com o Partido Social Democrata (SPD), em 1998, o partido ecológico vinha pressionando ara evitar projetos de cooperação nuclear com o estrangeiro. A ex-presidente do partido Renate Künast, hoje ministra da Agricultura e da Defesa do Consumidor, chegou a informar, antecipadamente, ao então presidente brasileiro Fernando Henrique, durante sua visita à Alemanha, em outubro de 2000, que o governo alemão deveria romper o acordo.
Tema divide o governo alemão
Como o tema divide o governo alemão ¿ o ministro da Economia, Wolfgang Clement, do SPD, é radicalmente contra o rompimento, pois receia prejuízos para a indústria nuclear alemã, que construiu Angra 2 ¿ vinha sendo tratado nos últimos anos com ¿extrema diplomacia¿, como disse o porta-voz, até as notícias vindas de Brasília sobre os planos de expansão do programa nuclear brasileiro, há algumas semanas, e da recusa de abertura total da central de enriquecimento de Resende à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), de Viena.
O comunicado enviado a Brasília na semana passada anuncia o rompimento de uma forma diplomática, e, em seguida, oferece o apoio alemão para a expansão da rede de energia renovável. Além do Brasil, a Alemanha tinha acordos semelhantes de cooperação nuclear com diversos países, sendo que os mais polêmicos eram a China e o Irã.