Título: PRESIDENTE DA PETROBRAS TAMBÉM CRITICA O BC
Autor: Juliana Rangel
Fonte: O Globo, 06/12/2005, Economia, p. 23
Sérgio Gabrielli faz coro às reclamações contra a política monetária. Até o Bradesco afirma que juros são altos
RIO, SÃO PAULO e HONG KONG. Mais um integrante do governo atacou os juros altos do Banco Central (BC). Depois da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, do vice-presidente, José Alencar, e do presidente do BNDES, Guido Mantega, foi a vez de o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, criticar a política monetária. Gabrielli disse que é preciso considerar aspectos como expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) e geração de emprego e renda na decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic.
¿ A meta de inflação não é a única variável. Os bancos centrais no mundo trabalham com diversas variáveis relevantes para suas decisões ¿ afirmou Gabrielli, durante evento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef).
Perguntado mais tarde por jornalistas sobre que tipo de metas o BC deveria adotar, Gabrielli respondeu:
¿ Isso é o Banco Central quem define. Nós temos um acordo: não falamos de política monetária e eles não falam de preços do petróleo.
Esta não foi a primeira vez que o ¿acordo¿ foi rompido. No ano passado, a Petrobras divulgou uma nota em resposta a uma ata do BC que questionou indiretamente a política de reajuste de preços da estatal.
O BC não rebateu o presidente da estatal. Em Hong Kong, onde integrantes do governo brasileiro se encontraram com investidores, o diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, já havia dito que a queda da inflação permitirá novos cortes nos juros:
¿ Se persistir o atual cenário inflacionário favorável nos próximos anos, há muito espaço para que possamos reduzir as taxas de juros.
Na abertura de um seminário em São Paulo, o presidente do BC, Henrique Meirelles, também destacou os resultados positivos nas áreas fiscal, externa e de controle inflacionário:
¿ À medida que houver uma melhora dos fundamentos na área fiscal, da convergência da inflação para as metas e no setor externo, os prêmios de risco continuarão caindo. Ao longo do tempo, teremos isso refletindo na taxa de juros real.
Cypriano: BC tem sido cauteloso em excesso
As críticas ao BC também crescem no setor privado. Marcio Cypriano, presidente do Bradesco ¿ líder do setor que teoricamente mais se beneficia do juro elevado ¿ elogiou a política econômica, mas disse que o BC tem sido ¿cauteloso em excesso¿. Segundo ele, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC tem elementos para aprovar um corte de pelo menos 0,75 ponto.
¿ A taxa de juros realmente é alta ¿ admitiu Cypriano.
O presidente da Petrobras explicou ainda que a expansão do PIB é relevante para os resultados da estatal, uma vez que a geração de renda e emprego tem forte impacto sobre a demanda de combustíveis. A previsão do crescimento da demanda por combustíveis da Petrobras é de 2,6% ao ano até 2010. Mas, apesar das críticas ao BC, Gabrielli admite que o indicador deverá superar a estimativa este ano. Em seu discurso a cerca de 600 executivos, Gabrielli disse que ¿o mundo vai além das metas inflacionárias¿.