Título: Ação de sem-terra dá seqüência ao `novembro vermelho¿
Autor: Jorge Henrique Cordeiro eFlávio Freire
Fonte: O Globo, 12/11/2004, O País, p. 10

A ação do MST no interior de São Paulo dá continuidade ao chamado ¿novembro vermelho¿, invasões coordenadas em todo o país em protesto contra a política de reforma agrária do governo. Desde o início do mês, os sem-terra já se mobilizaram em 14 estados, segundo informações do escritório nacional do MST, em São Paulo.

¿ Estamos pressionando o governo, que não cumpriu a meta de assentar 115 mil famílias no ano ¿ disse o coordenador do MST em Pernambuco Jaime Amorim.

¿O governo tem que mexer no Incra¿, diz líder do MST

Em todo o país, segundo ele, foram assentadas, de janeiro a outubro, apenas 30 mil famílias. As ocupações em série têm o objetivo de tentar acelerar as negociações com as superintendências estaduais do Incra.

¿ O governo tem que mexer no Incra. Não adianta pôr R$ 1,7 bilhão à disposição da reforma agrária se o instituto está desestruturado e não tem como trabalhar em favor dos sem-terra ¿ afirma Amorim.

Na terça-feira, os sem-terra paralisaram as rodovias BR-101, na entrada de Campos, e a Rio-Santos, ambas no Rio de Janeiro, exigindo do governo federal a entrega de cestas básicas e o cadastramento de novas famílias acampadas. No estado, segundo líderes dos sem-terra, 2.600 das quatro mil famílias acampadas estão cadastradas para o recebimento de cestas básicas.

Mobilização também em Maceió e Aracaju

Também na terça-feira cerca de 1.500 sem-terra montaram acampamento na sede da superintendência regional do Incra em Maceió.

Na pauta de reivindicações do movimento em Alagoas estão o assentamento das famílias, com estabelecimento de um cronograma, e mudança na metodologia de implantação dos projetos de assentamentos. Segundo eles, a falta de infra-estrutura (energia, estrada e água) também precisa ser discutida.

No início da semana, os trabalhadores rurais sem-terra começaram um acampamento em Aracaju com a participação de 1.500 pessoas. Lá, também apresentaram uma pauta de reivindicações: desburocratização dos créditos, infra-estrutura, agroindústria, escola e hospitais.

Os sem-terra também reclamam de supostas agressões. A direção do movimento informou ontem que 93 camponeses teriam sido espancados logo após serem detidos em Jandaia, no estado de Goiás. ¿Foram relatados casos de chutes na cabeça, golpes de cassetete e facão nas costas, corte de cabelo por faca e facões e tiros ao pé do ouvido, além de ameaças e chantagens¿, diz um relatório do MST.