Título: CHÁVEZ GOVERNA SEM OPOSIÇÃO
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 06/12/2005, O Mundo, p. 27

Assembléia Nacional da Venezuela será 100% formada por aliados de presidente

CARACAS.

Aoposição venezuelana ficou fora da Assembléia Nacional do país, que terá todas as cadeiras do Parlamento ocupadas por partidários ou aliados do presidente Hugo Chávez. De acordo com informações fornecidas pelo partido do presidente, o Movimento Quinta República (MVR), todos 167 deputados serão ou do próprio partido (número calculado em 114) ou de legendas aliadas (as 53 cadeiras restantes).

O motivo para a vitória total de Chávez seria a abstenção na eleição, que foi de 75,13%, possivelmente devido a um boicote convocado pela oposição. O resultado oficial ainda não fora divulgado até o início da noite de ontem.

Esta será a primeira vez na História recente da Venezuela que não haverá representantes da oposição na Assembléia Nacional. Alguns cientistas políticos afirmam que a situação lança o país numa era de incerteza política porque Chávez poderá governar tendo como único freio a Constituição. E uma das ações já prometidas pelos vitoriosos na eleição é reformar a Carta. Entre as mudanças está a possibilidade de se eliminar o limite de dois mandatos consecutivos para o presidente, o que permitiria que Chávez, no poder desde 1999, permaneça mais tempo no cargo.

Menos de uma semana antes da eleições de domingo a oposição a Chávez anunciou um boicote. Ontem, César Pérez Vivas, secretário-geral do partido de oposição Copei, disse que entraria na Justiça para anular a eleição. O próprio Vivas admite que a iniciativa dará em nada, mas disse que é apenas um passo para levar o caso a tribunais internacionais.

¿ Teremos um Parlamento, a partir de 5 de janeiro (data da posse), totalmente entregue à esquerda radical venezuelana. Os setores democráticos de centro-esquerda, centro-direita, centro-centro, que fazem a vida da sociedade venezuelana, não terão representação nesta Assembléia Nacional ¿ afirmou Vivas.

Movimentos opositores acusam o Conselho Nacional Eleitoral de ter maquiado os números da abstenção, que, segundo alguns deles, teria chegado a 90%. Observadores da União Européia disseram que divulgarão hoje um relatório sobre as eleições.

Líder chavista nega `partido único¿

O presidente da Assembléia Nacional, o oficialista Nicolás Maduro, disse que a nova configuração do Parlamento não significará a instauração de ¿um monopartidismo ou de um partido único¿. Para ele, todos os grupos sociais estarão representados no que chamou de ¿assembléia plurissocial.¿

¿ A governabilidade não depende do volume a oposição. Depende do volume dos povos ¿ disse o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Alí Rodríguez.

Segundo o chanceler, a grande abstenção teria ocorrido porque, com o boicote eleitoral da oposição, os chavistas teriam tido a ¿idéia errada¿ de não ir até as urnas, já que não ¿existia rival a vencer.¿

Os dois principais partidos da oposição venezuelana, a Ação Democrática (AD) e o Copei, resolveram retirar seus candidatos e pregar um boicote às eleições, afirmando, entre outras coisas, que as urnas eletrônicas que seriam usadas não eram confiáveis. A AD e o Copei dominaram a cena política da Venezuela por 40 anos. Entre 1958 e 1998, houve cinco presidentes da AD e três do Copei.

O boicote e a conseqüente saída do Parlamento, no entanto, não apenas potencializaram uma derrota anunciada. Pesquisas eleitorais antes do anúncio do boicote indicavam que o MVR e outros aliados de Chávez conquistariam pelo menos 130 cadeiras.

A abstenção (menos de um quarto dos eleitores votaram) não chegou a ser algo muito maior do que eleições recentes do país. Se, no pleito parlamentar de 2000, 56% não compareceram, nas eleições municipais do ano passado a abstenção foi de 69%, apenas seis pontos percentuais a menos que a de domingo.

O boicote da oposição foi criticado por instituições internacionais. Os partidos antichavistas haviam se comprometido com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e com a UE a participar do pleito.

O editor do jornal venezuelano TalCual, Teodoro Petkoff, criticou tanto os chavistas quanto a oposição.

¿ Este processo sepultou o sistema eleitoral da Venezuela. Este sistema eleitoral não merece a confiança nem dos opositores do governo nem de seus defensores.