Título: MEIRELLES REBATE CRÍTICAS E DIZ QUE ATAQUES PODEM PROVOCAR MAIS ESFORÇO
Autor: Patricia Duarte, ramona Ordoñez e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 07/12/2005, Economia, p. 26

Ao defender política monetária, presidente do BC reafirma que não há mágica

BRASÍLIA e RIO. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, rebateu ontem duramente as críticas contra a política monetária, que chegam até de colegas de governo, o chamado ¿fogo amigo¿. Ele afirmou que o BC não é insensível à atividade econômica e voltou a defender o sistema de metas de inflação ¿ que, destacou, é importante para a melhorar renda e indicadores sociais.

Na avaliação de Meirelles, a falta de credibilidade da política monetária somente pode levar a esforços ainda maiores da sociedade.

Depois da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), nesta semana o presidente do BNDES, Guido Mantega, jogou pedras na condução da política monetária, apontada por ele como a grande responsável pela queda de 1,2% do PIB no trimestre passado. E anteontem foi a vez de o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, criticar os juros altos. Ontem, entretanto, ele adotou um tom mais ameno.

O presidente do BC aproveitou o seminário ¿Riscos, Estabilidade Financeira e Economia Bancária¿ para fazer declarações mais contundentes do que o habitual. Meirelles afirmou que o controle da inflação é essencial para que os juros básicos recuem. Hoje, a Taxa Selic está em 18,5% ao ano e o juro real (descontada a inflação) é o maior do mundo, inibindo o consumo por encarecer o crédito.

¿ Infelizmente, não é possível atuar diretamente sobre a inflação sem manter o controle sobre o crescimento da demanda agregada (de mercado) ¿ afirmou o presidente do BC.

Meirelles também rebateu as críticas de que o BC é inflexível na condução da política monetária. Ele lembrou que a autoridade monetária ampliou, em 2004, para 24 meses a convergência para a meta de inflação de 4,5%. Para este ano, mesmo com a meta menor, o BC adotou como objetivo 5,1% de inflação, já que tem intervalo de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos:

¿ Não é possível que a convergência para a trajetória de metas esteja sendo sempre postergada em nome dos custos inerentes ao processo de desinflação. Não há mágicas, os custos sempre aparecem.

Ao responder à pergunta de um repórter depois da solenidade de entrega do prêmio Finep de inovação tecnológica, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou apreensão.

¿ Vai, vai ¿ respondeu o presidente ao ser perguntado se haveria ajustes na política econômica.

Espantados, os jornalistas insistiram:

¿ Vai mesmo, presidente?

¿ Tudo vai acontecer ¿ afirmou Lula.

Mais tarde, o Palácio do Planalto esclareceu que o presidente quis dizer que a economia vai se ajustar no quarto trimestre e voltará a crescer.

Presidente da Petrobras explica declarações

Ontem, o presidente da Petrobras também tentou esclarecer o que dissera na segunda-feira. Ele afirmou que não quis criticar a política do BC, apenas comentar as dificuldades que uma empresa tem em seu planejamento:

¿ Acho que a política de busca de estabilidade é absolutamente fundamental para qualquer economia. O Banco Central é responsável por isso e está fazendo um bom trabalho ¿ disse o executivo, ressaltando que defendera na véspera que as decisões empresariais na área produtiva não podem ser pautadas apenas levando-se em conta a estabilidade.