Título: Tucanos ajudam a adiar depoimento de Palocci
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Fonte: O Globo, 08/12/2005, O País, p. 10

Em rara maioria no Senado, governo retira da pauta convocação do ministro, que só deve acontecer em 2006

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, só deverá depor em 2006 na CPI dos Bingos no Senado. Numa manobra que teve o apoio de senadores do PSDB, o governo obteve rara maioria na sessão de ontem, obrigando o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), a retirar da pauta a votação da convocação do ministro. Restando apenas a próxima semana até o recesso parlamentar, dificilmente haverá tempo para votar o requerimento e levar Palocci à CPI.

Efraim deu prazo até a próxima terça-feira para que Palocci compareça espontaneamente. Há 15 dias, a CPI aprovou um convite ao ministro. Se ele não for, o presidente promete pôr em votação o requerimento de convocação. Restariam só as sessões de quarta e quinta-feira para o depoimento.

¿ Este ano não dá mais ¿ disse ontem o senador Flávio Arns (PT-PR), escalado por Morais para refazer o convite ao ministro, sem esconder os motivos da operação deflagrada pelo PT. ¿ Sou até favorável à convocação, mas neste momento, principalmente com a queda do PIB, seria muito temerário.

Senador do PDT ajuda governo a evitar convocação

Ontem, o fiel da balança acabou sendo o senador da oposição Augusto Botelho (PDT-RR), que anunciou seu voto contra a convocação, virando o placar até agora sempre desfavorável ao governo. Botelho poderia ser trocado ontem por outro senador de oposição, mas, com a ajuda do PSDB, foi mantido. Os tucanos são contra a convocação do ministro no momento porque temem ser responsabilizados por novos distúrbios da economia.

¿ Hoje o governo tem uma maioria eventual. Que ninguém se iluda com essa matemática. Ela vai depender do momento ¿ disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio.

Quase nunca visto nas sessões da comissão, Botelho foi um dos primeiros a chegar ontem no plenário da CPI, mesmo contra uma recomendação médica de não trabalhar por causa de um forte resfriado:

¿ Deveria estar de repouso, mas fiz questão de vir porque não concordo com a convocação do ministro. Também sou médico e se o doente está se afogando não vou apertar ainda mais sua cabeça.

Botelho disse aos líderes petistas que eles poderiam contar com seu voto no final da tarde de terça-feira. Pouco depois, já alertado pelo senador Tião Viana (PT-AC), Palocci ligou para o presidente da CPI para informá-lo que não irá mais à CPI espontaneamente, quebrando o acordo feito há 15 dias. Morais não escondeu sua irritação:

¿ Não vou convidá-lo novamente. Me sinto batendo na porta da casa de um cidadão que não quer me receber. A convocação será votada nem que seja derrotada ¿ disse ele.

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