Título: Pizzolato responsabiliza Casseb e Gushiken
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 08/12/2005, O País, p. 13

Ex-diretor afirma que ex-presidente do BB e ex-ministro mandaram antecipar pagamentos da Visanet à DNA

BRASÍLIA. No seu segundo depoimento à CPI dos Correios, Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, responsabilizou ontem o ex-presidente da instituição Cássio Casseb e o ex-ministro Luiz Gushiken, da extinta Secretaria de Comunicação de Governo, pela antecipação de pagamentos feitos pela Visanet ¿ empresa da qual o BB tem um terço do capital ¿ à DNA, agência de Marcos Valério, por serviços que seriam prestados em 2003 e 2004.

Embora a nota técnica com a autorização para a antecipação desses pagamentos tenha sua assinatura, Pizzolato alega que consultou Casseb e Gushiken antes de assiná-la e ambos o incentivaram a dar o aval.

Pizzolato chegou a dizer que foi um ¿inocente útil¿ na história. Ao fim do depoimento, ele chorou e sua mulher, Andreia, irritada, ameaçou:

¿ O PT vai pagar o que fez com ele.

Em 2003, a DNA Propaganda recebeu antecipadamente R$23 milhões. No ano seguinte, R$44 milhões. Só a aplicação financeira desses R$67 milhões teriam rendido à agência da Valério cerca de R$4,5 milhões. Pelo menos R$10 milhões dessas antecipações foram aplicados em CDBs no BMG e serviram de garantia para um empréstimo de mesmo valor contraído pela SMP&B, outra agência de Valério, em nome do PT.

¿Entendi como uma ordem. Não ia questionar ministro¿

De acordo com Pizzolato, que estaria com uma crise de labirintite, aquela nota técnica, quando chegou às suas mãos, já estava assinada pelo então diretor de Varejo do BB, Fernando Barbosa de Oliveira, e pelo gerente de Propaganda, Cláudio Vasconcelos. A nota, ainda de acordo com o ex-diretor de Marketing, também já determinava que a DNA passaria ser a única agência contratada pelo BB a prestar serviços para a Visanet e determinava, inclusive, a conta corrente na qual os pagamentos deveriam ser efetuados. Antes de assiná-la, no entanto, Pizzolato alega que consultou Casseb e Gushiken.

¿ Primeiro fui até o presidente do banco, que era membro do conselho deliberativo da Visanet. Ele disse que tinha conhecimento do procedimento e que o sistema de repasse para as agências de publicidade era comum. Depois, aproveitei uma reunião na Secom para falar com o secretário-executivo Marcos Flora, que me levou ao ministro Gushiken, que disse: ¿Assina que não tem nenhum problema¿. Eu entendi aquilo como uma ordem. Não ia questionar o ministro ¿ contou Pizzolato, tentando se eximir da responsabilidade pelos pagamentos antecipados feitos à DNA.

Pizzolato ainda fez questão de ressaltar que, ao assumir o comando da diretoria de Marketing do Banco do Brasil, recebeu uma determinação de Casseb e de Gushiken para que não substituísse qualquer funcionário e nem suspendesse ou alterasse projetos ou contratos em vigor. Antes de tomar posse, ele conta que foram prorrogados por seis meses os contratos publicitários do banco com as agências DNA, Lowe e Grotera.

Gushiken rebateu as declarações de Pizzolato e disse que nunca foi consultado a respeito das antecipações de pagamentos feitas pela Visanet à DNA.

¿ Se ele (Pizzolato) consultou o presidente do Banco do Brasil, eu não sei. Mas para mim, ele nunca apresentou aquela nota ¿ disse.

Paes quer acareação entre Pizzolato e Gushiken

O ex-ministro reconheceu, contudo, que qualquer campanha publicitária, mesmo de subsidiárias de estatais, eram obrigatoriamente submetidas à apreciação da Secom. Esse foi o caso da campanha publicitária do Ourocard, cartão de crédito do Banco do Brasil com a bandeira Visa, financiada pela Visanet e executada pela DNA a partir de 2003.

¿ Mas não tínhamos idéia de quem pagava aquela campanha. Analisávamos apenas o conteúdo das campanhas, já que o produto levava a marca do BB ¿ explicou Gushiken.

Disposto a processar Pizzolato, o ex-ministro também nega que tenha partido dele qualquer ordem para que o ex-diretor de Marketing não promovesse mudanças na equipe:

¿ Não sei aonde ele quer chegar com isso, nem ao que se refere. Na verdade, o Pizzolato é uma pessoa muito confusa. De qualquer forma, pretendo acioná-lo na justiça.

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) já apresentou um requerimento propondo uma acareação entre Pizzolato e Gushiken. O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), antecipou seu apoio à proposta.

Cássio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil, contestou de forma lacônica as declarações de Pizzolato.

¿ Não vou falar porque nunca fui membro do conselho da Visanet.