Título: DILMA FALA DE ECONOMIA E DIZ QUE PALOCCI FICA
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 08/12/2005, Economia, p. 31

Ministra volta a debater perspectivas econômicas pela primeira vez após briga com o ministro da Fazenda

BRASÍLIA. Pela primeira vez após a briga nos bastidores com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, voltou a falar ontem sobre economia. Ela afirmou que, se os juros caírem, conforme sinalização do Banco Central, e o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) crescer a partir de 4% no próximo ano, conforme a expectativa, o governo poderá fazer em 2006 um ajuste fiscal inferior aos 4,25% estabelecidos na meta. Em longa entrevista, não só entrou na seara de Palocci, dando diretrizes da política econômica, como garantiu que o ministro da Fazenda ficava no cargo.

Ela aproveitou para afagar Palocci, dizendo que a economia colherá os frutos da política econômica, que mudou o cenário de recessão e inflação em alta herdada do governo anterior:

¿ Nós temos clareza absoluta que o ministro Palocci deu uma grande contribuição para a economia. Não há a menor hipótese de o ministro Palocci ser afastado do governo. Isso o presidente Lula já reiterou sistematicamente ¿ garantiu Dilma.

A ministra atribuiu a retração da economia à política monetária restritiva, mas disse confiar na trajetória de crescimento futuro:

¿ Há todas as condições para no ano de 2006 haver um crescimento sustentado da economia acima de 4%.

As declarações da chefe da Casa Civil foram feitas à saída do almoço com o Comando da Marinha. Cautelosa, Dilma deu pistas de que um afrouxamento fiscal pode estar em gestão. Perguntada se a economia terá condições de crescer acima de 4%, a ministra confirmou a previsão e ressaltou que a projeção é uma trajetória declinante dos juros.

¿ É bastante viável (crescer mais de 4%), até porque há uma sinalização do Banco Central nesse sentido, que a tendência é no sentido de diminuição da taxa de juros. Obviamente isso permitirá várias coisas, como uma valorização do câmbio e também uma política de superávit fiscal menos intensa ¿ disse a ministra.

Antes de terminar a entrevista, porém, ressaltou que a meta de economia para pagamento de juros no próximo ano estava mantida em 4,25% do PIB. Questionada se a meta poderia mudar a ministra foi direta:

¿ Desde que você tenha um aumento do PIB, desde que se tenha uma queda da taxa de juros. Esperamos (a mudança da meta no próximo ano). Nós temos sempre a expectativa otimista.

Ministra teria respaldo do presidente Lula

Dilma afirmou que espera um desempenho positivo da economia no quarto trimestre, mas que ainda não é possível prever de quanto será a expansão. Segundo ela, a desaceleração da economia no terceiro trimestre reflete os aumentos na taxa de juros promovidos por seis meses. Entretanto, agora, com a tendência de queda dos juros, ela disse esperar que a economia volte a crescer nos últimos três meses deste ano e em 2006.

No núcleo do governo, a avaliação é que Dilma falou com o respaldo do próprio Lula. Segundo assessores palacianos, o presidente já teria enquadrado a atual linha restritiva da política econômica. Nos últimos dias, em conversas reservadas com Palocci, o presidente determinou que crescimento é a nova palavra de ordem do governo.

No Planalto, a avaliação é que, de forma discreta, a linha defendida pelos chamados ¿expansionistas venceu a tese dos "fiscalistas¿. O presidente chegou a falar que a equipe econômica exagerou na dose durante muito tempo. O próprio Palocci chegou a garantir para Lula que o resultado do PIB no quarto trimestre apresentaria uma recuperação da economia.