Título: DECIFRADO O GENOMA DE NOSSO MELHOR AMIGO
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Fonte: O Globo, 08/12/2005, O Mundo, p. 36

Mapa genético do cão abre caminho para entender como raças podem ser tão diferentes

LONDRES. Cientistas britânicos e americanos decodificaram o genoma do cão com alto grau de precisão. O feito oferecerá uma compreensão muito mais profunda sobre a história evolutiva não só do Canis familiaris (o cão doméstico), mas também sobre a espécie da qual ele é o maior companheiro, o Homo sapiens.

O cão cujo genoma foi seqüenciado chama-se Tasha, uma boxer cujos donos preferem permanecer anônimos, disse Kerstin Lindblad-Toh, um biólogo do Instituto Broad, em Cambridge, que liderou o consórcio que realizou o estudo. O trabalho está na edição desta semana da revista britânica ¿Nature¿.

Os cerca de 400 milhões de cães do mundo estão divididos em 400 raças e suas muitas misturas. Os cientistas escolheram o genoma de Tasha porque o boxer tem alta taxa de cruzamento entre parentes, o que diminui a diversidade de dados para analisar.

Combinado a dados do genoma do homem, do chimpanzé e do rato, o seqüenciamento do DNA canino poderá ajudar a revelar a essência do que é ser mamífero. Essas espécies compartilham 5% de seu DNA, genes que podem dizer muito sobre a evolução dos mamíferos. O estudo já mostrou que o ser humano partilha muito mais genes com o cão do que com o rato.

O genoma de Tasha ofereceu uma versão muito melhor do genoma do cão do que a versão preliminar do DNA da poodle Shadow, concluído há dois anos. Shadow teve o genoma seqüenciado por seu próprio dono, o geneticista americano Craig Venter, um dos pioneiros da genômica.

O estudo ajudará a compreender melhor doenças humanas para as quais o cachorro é o melhor modelo de pesquisa. Outra aplicação é investigar como as raças variam tanto. Os cães domésticos diferem muito na aparência, porém, seu genoma é 99,85% similar. Um boxer e um poodle, por exemplo, apresentam uma variação a cada 900 bases genéticas.