Título: Preso tem ligações com empresário e deputado
Autor: Antônio Werneck
Fonte: O Globo, 12/11/2004, Rio, p. 14

Com a prisão do empresário Renan de Macedo Leite, de 40 anos, suspeito de integrar a máfia dos combustíveis, a Polícia Federal identificou uma conexão entre ele, o empresário Amadeu Moreira Carvalho e o deputado federal André Luiz (PMDB-RJ). Amadeu há dois anos vem sendo investigado pela PF, suspeito de ser um dos chefões da quadrilha. Segundo as investigações do delegado Cláudio Nogueira, Renan assumiu o controle de empresas que foram de Amadeu, quando o nome do empresário apareceu nos jornais por causa da CPI da Câmara dos Deputados sobre a máfia dos combustíveis.

Para a PF, empresário atuava como testa-de-ferro

Ainda segundo a PF, Amadeu foi sócio de André Luiz entre 2002 e 2003, em postos de gasolina no Rio e no interior. A PF tem indícios de que Renan atuava no Estado do Rio apenas como testa-de-ferro de Amadeu e políticos fluminenses. O negócio esconderia um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo desvio de dinheiro público.

¿ Isso vai acabar dando merda ¿ disse Renan em conversa gravada com autorização judicial pela Polícia Federal.

Na relação de postos de gasolina autuados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), disponível na página do órgão na internet, está o Alfama, em que Amadeu aparece como sócio de Renan. A sociedade durou até abril deste ano. A atuação aconteceu em 5 de novembro de 2003. Nesse posto, além de Amadeu e Renan, havia outros oito sócios. Um deles era Vilarino dos Santos Gomes, que divide com Renan outros empreendimentos; outro sócio era o juiz aposentado Moysés Cohen.

O nome de Amadeu foi parar no noticiário quando trechos de conversas suas com André Luiz vazaram de uma investigação de Cláudio Nogueira. O empresário teria nessas ligações orientado André a fazer perguntas para supostamente pressionar Sebastião do Rego Barros, diretor-geral da ANP, em sessão da CPI dos Combustíveis na Câmara. A CPI foi interrompida em setembro de 2003 sem apontar os fraudadores.

Nos últimos dois anos, todos os passos de Amadeu e Renan foram acompanhados pela PF. Amadeu, segundo as investigações, seria uma pessoa muito bem relacionada com autoridades do Judiciário e políticos fluminenses. Também tem laços de amizade com empresários do ramo de combustíveis e usineiros em São Paulo.

No Rio, ele chegou a estudar a possibilidade de comprar uma ilha na Baía de Guanabara, para instalar ali uma empresa de combustível. O negócio milionário teria, segundo a PF, financiamento no BNDES. O projeto, entretanto, não foi adiante. Na mesma época, em 2001, a PF investigou comerciantes suspeitos de integrarem a chamada máfia do óleo. O grupo era suspeito de desviar 275 mil litros de óleo diesel por dia de navios, a maioria da Petrobras. Segundo policiais federais, em 12 anos essa quadrilha seria responsável por 30 assassinatos só no estado.

Freqüentador de colunas sociais ¿ a PF tem recortes em que ele aparece ao lado de políticos e outras autoridades ¿ Amadeu realiza festas concorridas em sua casa e em boates na Zona Sul. Na boate Nuth, na Barra da Tijuca, de acordo com a PF, Amadeu costumava organizar festas e noitadas para um seleto número de amigos: servidores do Judiciário, políticos e empresários. Para a festa de aniversário da filha de um desembargador aposentado, ainda segundo a PF, ele fez questão de dar uma ajuda.

¿ Ele gastava por noite até R$ 40 mil ¿ disse um policial federal.

Ontem, com a apresentação de mais um procurado (um policial civil do Rio), subiu para 46 o número de presos pela PF, por suspeita de integrar a máfia dos combustíveis. O delegado Cláudio Nogueira informou que as investigações estão concentradas agora na análise detalhada dos documentos apreendidos:

¿ Conseguimos provas de sonegação fiscal e de que havia atuação em conjunto, o que caracteriza formação de quadrilha ¿ disse o delegado.