Título: FURLAN CRITICA CONSERVADORISMO DO BC
Autor: Regina Alvarez e Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 09/12/2005, Economia, p. 31
Ministro afirma que país pode viver com superávit comercial de US$20 bi
BRASÍLIA. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, engrossou o coro dos descontentes com a condução da política econômica ao afirmar ontem que o Banco Central (BC) exagerou no conservadorismo com a taxa básica de juros Selic entre setembro de 2004 e agosto deste ano. Segundo Furlan, a desaceleração da economia verificada no terceiro trimestre ¿ queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) ¿ é parte de um ¿esforço deliberado¿ de contenção da inflação. Com isso, ele endossou a opinião da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e dos presidentes do BNDES, Guido Mantega, e da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
¿ Medidas monetárias foram tomadas para esfriar a economia. Houve exagero em diversas áreas, inclusive na de comércio exterior. Cada um tem suas responsabilidades. Não era nosso objetivo, por exemplo, um saldo de US$44 bilhões em 12 meses. Esperávamos importações a um ritmo maior ¿ disse Furlan.
`Juro alto inibe vendas internas e câmbio, externas¿
Para o ministro, não há sinal de inflação de demanda, o que dá espaço para uma política mais expansionista:
¿ Nós temos é o oposto (à inflação de demanda). Há setores que trabalham com ociosidade. Na construção civil isso é claríssimo. Além disso, teremos uma boa safra ano que vem, o que nos deixa menos preocupados com a agricultura.
Furlan acrescentou que o país poderia conviver tranqüilamente com um superávit comercial de US$20 bilhões por ano. Ele disse que o atual saldo de US$44 bilhões em 12 meses se deve, principalmente, ao fraco desempenho das importações, citando como exemplo as compras de bens de capital, componentes e matérias-primas (insumos que significam investimento, cuja taxa recuou 0,9% no terceiro trimestre). O ministro afirmou que o grande desafio para 2006 é que as compras externas cresçam acima das exportações.
O ministro aproveitou para lamentar a valorização do real frente ao dólar. O exportador, enfatizou o ministro, perdeu rentabilidade e alguns setores já estariam revendo suas projeções para o ano que vem:
¿ Certa vez, um alto dirigente de uma multinacional disse uma coisa certa: o juro alto inibe as vendas no mercado interno e o câmbio valorizado inibe as vendas no mercado externo.