Título: LULA QUER QUE IBGE CHEQUE AS CONTAS DO PIB
Autor: Regina Alvarez e Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 09/12/2005, Economia, p. 31

Presidente está insatisfeito com a falta de informações sobre o cálculo. Instituto avisa que revisão será só em 2006

BRASÍLIA e RIO. Inconformado com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas geradas pelo país) no terceiro trimestre, que recuou 1,2% em relação ao período anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitou que a equipe econômica peça ao IBGE que faça uma checagem nos dados da atividade econômica apurados entre julho e setembro deste ano. O presidente não pretende que seja feita uma revisão imediata do número divulgado pelo instituto na semana passada, mas para interlocutores próximos tem posto em dúvida a metodologia usada no cálculo do PIB e demonstrado desconforto com a falta de informações mais precisas sobre a composição das contas nacionais do país.

Lula já foi informado pelo Ministério do Planejamento de que uma possível revisão do PIB só vai acontecer depois de conhecido o resultado do quarto trimestre, em fevereiro, e, por isso, de lá e da Fazenda não saíram novos números ou previsões. A equipe econômica espera que o resultado do fim do ano seja mais favorável do que o registrado no terceiro trimestre. Mas o presidente insiste que essa verificação da metodologia é importante para saber se houve algum erro.

Lula menciona em reunião assessor José Graziano

O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, negou que o presidente tenha pedido que as contas nacionais do terceiro trimestre sejam refeitas. Reiterou que os números do PIB do terceiro trimestre poderão sofrer revisão, como é de praxe, mas somente quando os números da economia no quarto trimestre estiverem prontos:

¿ É absolutamente mentira. Não houve pedidos do presidente ou do ministério (Planejamento, ao qual o IBGE está subordinado) para que as contas sejam refeitas.

Nunes explicou que a forma de retirar das variações do PIB as influências sazonais (em determinadas épocas do ano, como no Natal, a economia cresce mais, por isso, sem os ajustes seria impossível comparar períodos diferentes) depende dos dados de outubro a dezembro chegarem. Portanto, somente em fevereiro o IBGE vai saber se os números do terceiro trimestre vão mudar.

Segundo Nunes, a queda de 1,2% reflete o movimento de desaceleração da economia brasileira observado ao longo do ano. Se houver um crescimento expressivo no fim do ano, que mude esse ritmo lento da economia, os números poderão ser revistos para cima:

¿ As variações nas comparações com o trimestre são as que sofrem revisão. Nas comparações anuais e contra o mesmo período do ano anterior não há mudanças.

Pelas contas do IBGE, para o país crescer 3% este ano, será preciso uma expansão de 4,3% no quarto trimestre frente ao mesmo período de 2004.

Equipe econômica contra o debate sobre as contas

Na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Lula mencionou o assessor especial José Graziano ao se referir ao comportamento do PIB no terceiro trimestre.

¿ Toda vez que saem os macrodados, eu peço para (ele) me estudar os microdados porque, às vezes, no micro a gente encontra coisas (...) . Apesar do terceiro trimestre ter caído, o consumo da família cresceu (0,8%) e os salários cresceram, então, tem um indício importante... ¿ disse o presidente.

Lula também ouve a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o presidente do BNDES, Guido Mantega, quando o assunto é economia e essa influência incomoda a equipe econômica que vê a checagem dos dados com reservas. Mesmo no Palácio do Planalto, a insistência de Lula em checar os dados do IBGE é vista por alguns assessores do presidente e ministros com certo receio. Segundo essa visão, o que importa é olhar para a frente e tomar decisões que estimulem a retomada do crescimento em 2006.