Título: Parceria que vai além do mercado
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 12/11/2004, Economia, p. 23

Um dos mais recentes parceiros internacionais do Brasil do ponto de vista estratégico em praticamente todos os fóruns multilaterais, a China deixou o governo brasileiro numa situação difícil. É que o pedido a ser feito hoje pelo presidente chinês, Hu Jintao, a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, para que o Brasil reconheça o país asiático como uma economia de mercado, não pode ser acolhido neste momento pela seguinte razão: nas negociações com o Mercosul, a União Européia (UE) havia reivindicado o mesmo para os países do Leste da Europa. E o bloco sul-americano disse não.

Por isso, até que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior conclua um estudo sobre o assunto, a China e as nações do Leste da Europa que acabaram de entrar na UE continuarão sendo tratadas como países em transição para o livre mercado. Mas, se depender das autoridades brasileiras, haverá a máxima boa vontade possível com a China, que tem se mostrado leal ao Brasil em diversas frentes.

Na Organização Mundial do Comércio (OMC), a China se alinhou a Brasil e Índia para liderar o G-20, grupo de países contrários aos subsídios agrícolas na Rodada de Doha. Além disso, a China apóia a candidatura brasileira a membro permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Mas há muita coisa em jogo e nada será dado de graça. Nos últimos dois dias, representantes dos dois países vararam a madrugada para fechar um acordo para liberação da carne bovina brasileira para o mercado chinês. Espera-se que o acordo saia hoje. Com relação ao frango já houve uma conquista: a China deve eliminar a cota de importação de 15 mil toneladas concedida ao Brasil.