Título: Lula acusa oposição de golpismo
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 10/12/2005, O País, p. 3

Não ajo como Chávez. Mas meus adversários agem como adversários de Chávez¿

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem seus adversários políticos de golpistas ao afirmar que a oposição no Brasil age como a Fedecámaras (Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela), que é contra o governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e já deu um golpe que o tirou do poder por 48 horas. Amigo de Chávez, o presidente rechaçou comparações com o colega, mas considerou que a oposição brasileira atua de forma semelhante à venezuelana, apesar de as denúncias de corrupção contra seu governo e o PT terem partido de um aliado, o ex-deputado Roberto Jefferson.

Os ataques de Lula provocaram forte reação da oposição, que ameaçou não votar o Orçamento de 2006 este ano e ainda ajudar a aprovar, na CPI dos Bingos, a convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para que explique denúncias de corrupção em sua gestão.

O presidente fez a acusação durante rápida entrevista ao término da 29ª Cúpula do Mercosul, encerrada ontem na capital do Uruguai.

¿ Há alguns que ficam dizendo que eu, quando vou fazer um ato público, ajo como se fosse Chávez. E eu digo sempre: não estou agindo como Chávez. Agora, meus adversários estão agindo como agiu a Fedecámaras contra Chávez. Ou seja: tentando fazer golpismo ¿ disse Lula, abrindo os braços e sorrindo, ao responder às perguntas de jornalistas brasileiros sobre declarações semelhantes dadas por ele à revista ¿Carta Capital¿, na edição que chega as bancas neste fim de semana.

`Chávez é o Chávez e eu sou eu¿, diz

Na revista, Lula disse que seus adversários atuam como a Fedecámaras agiu na Venezuela, sem respeitar o jogo democrático. ¿Nossa elite age como na Venezuela¿, acrescentou. Já subindo as escadas do Edifício Mercosul, onde participaria da reunião de Cúpula, Lula, quando perguntado, disse inicialmente que não havia lido a entrevista, mas depois respondeu que era verdadeira sua afirmação de que a oposição brasileira agia como a venezuelana. O presidente não respondeu a uma nova pergunta sobre o que queria dizer com golpismo.

Quando foi abordado o tema de denúncias sem provas, na entrevista à revista, Lula disse:

¿ Fico pensando que um dia a História vai julgar o que aconteceu em 2005. Como sou defensor da liberdade de imprensa, concluo: `Juiz será o leitor¿. Um dia levantaram: `Ah, Lula está indo para a rua porque quer imitar Chávez¿. Eu não quero ser que nem Chávez, nem Chávez quer ser igual a mim. Chávez é o Chávez e eu sou eu. Agora, eles estão agindo no Brasil como a Fedecámaras agiu na Venezuela, sem respeitar o jogo da democracia. Porque você pode não gostar do Chávez por `n¿ motivos. Agora, o cidadão faz uma eleição, faz uma Constituição, faz um referendo, ganha o referendo, faz outro referendo, e ainda assim acham que não é democrata? Aí também é demais. Em relação ao governo de Chávez, a posição do Brasil sempre foi a de reconhecer que há uma democracia na Venezuela, apesar das críticas de países como os Estados Unidos.

Venezuelano diz que enfrenta golpistas

A Fedecámaras faz uma oposição sistemática a Chávez e esteve diretamente envolvida na tentativa de golpe na Venezuela, em abril de 2002. Na ocasião, o golpe foi liderado por Pedro Carmona Estanga, então presidente da Fedecámaras. A confusão durou 48 horas, mas Chávez, com a ajuda dos militares, voltou ao governo e ao Palácio de Miraflores. Carmona se refugiou na Colômbia.

No plebiscito de agosto de 2004, que decidiu sobre a permanência de Chávez como presidente da República, novamente a Fedecámaras defendeu o voto ¿Não¿. Mas Chávez saiu vencedor, com a vitória do ¿Sim¿ ao seu governo. No último domingo, houve eleição na Assembléia Nacional, quando a oposição boicotou e não participou, o que garantiu a maioria para Chávez no Parlamento.

Nos últimos discursos e entrevistas, Lula vem subindo o tom em relação à oposição. Na semana passada, o presidente disse que seus adversários estavam nervosos e irritados porque os fracassos que preconizavam haviam se transformado em sucessos de seu governo. Esta semana, em entrevista a emissoras de rádio, no Palácio do Planalto, disse que a ¿oposição de direita¿ a seu governo é mais raivosa do que a que foi praticada pelo PT quando era oposição. Lula tem criticado, nos bastidores, o comportamento do PSDB e do PFL na condução das CPIs, considerando que tem havido exageros.

Em seu discurso na reunião do Mercosul, Chávez voltou a dizer que era vítima de ações golpistas da oposição e chegou a afirmar que a extrema-direita e a direita haviam se associado com a mídia da Venezuela. Disse também que havia comentado o assunto com o presidente brasileiro. Segundo Chávez, Lula concordou e disse que também enfrentava problemas com seus adversários no Brasil.

A REAÇÃO DA OPOSIÇÃO na página 5

AS NEGOCIAÇÕES DO MERCOSUL nas páginas 37 e 38