Título: `EU SOU UMA ESPÉCIE DE PAI DO PT¿
Autor: Lydia Medeiros e Maria Lima
Fonte: O Globo, 10/12/2005, O País, p. 5

Trechos da entrevista do presidente Lula à revista ¿Carta Capital¿:

PT: ¿Sou uma espécie de pai do PT, e sei do sacrifício que fizemos para construí-lo. Ao dizer que me traíram, não citei nomes porque certamente não havia apenas um companheiro envolvido (...) Essa prática política nunca foi aceita por nós como decente. Não é dinheiro que ganha eleição. As pessoas precisam saber disso¿.

PIB: ¿Concordo, foi uma notícia péssima o PIB. Esperava que não caísse tanto, esperava que até chegasse a zero. Mas hoje pego os dados da Anfavea: as exportações de carro vão crescer 30%, a produção cresceu quase 11% (...) Não sou de fazer prognóstico, porque não sou economista. Mas tenho dito para todo mundo que não tem por que o Brasil não crescer 5%, ou acima de 5%, em 2006¿.

REFORMA POLÍTICA: ¿Espero que em 2006 possamos discutir uma reforma política para que, a partir de 2011, o presidente possa gozar de um mandato maior, sem reeleição. Aliás, no Brasil era assim. E estava bom assim. Não fosse a vaidade de determinadas pessoas¿.

CANDIDATO DO PSDB: ¿Parece-me que tudo caminha para ser o Alckmin (o candidato tucano a presidente). Acho que mais que o Serra. Até porque o Serra pagaria um preço enorme por abandonar São Paulo, depois de um ano e quatro meses na prefeitura¿.

ESQUERDA: ¿Eu nunca gostei de me rotular de esquerda. Sou torneiro mecânico e cheguei à Presidência por obra e graça da paciência (...) Não preciso ser de esquerda para lutar pela igualdade¿.

CRISE POLÍTICA: ¿Foi um massacre. Não posso dizer, como presidente, tudo o que penso a respeito do que aconteceu em 2005. Em alguns momentos me pareceu claro que pouco importava a verdade para alguns setores. Qualquer coisa que fosse contra o governo, vamos dar destaque, porque o objetivo é desgastar o governo. Essas e outras coisas muitas vezes me deixam muito magoado¿.

FERNANDO HENRIQUE: ¿Não sei como um presidente pode ficar fazendo comentários sobre outro presidente sem olhar o telhado dele¿.

DELFIM COMPANHEIRO: ¿Fico muito feliz quando percebo que as pessoas estão comentando (os resultados na economia) (...) Vou te dar um dado que economistas que escrevem para a `Carta Capital¿ podem ajudar a avaliar, nosso companheiro Delfim Netto, quem já imaginou eu chamar Delfim Netto de companheiro...¿

ELITE BRASILEIRA: ¿O que essa elite vendeu nos últimos 90 dias? A idéia de que, se a economia está bem, não é por conta do governo. E então não precisam mais do Palocci. E aí começaram a cutucar-lhe a vida. Estou preocupado, porque daqui a pouco vão querer analisar o passado do Palocci e se ele não cometeu heresias até no ventre materno. Tenho conversado muito com o Palocci, mostrado que o pessoal do PSDB de São Paulo não é tão amigo dele não¿.