Título: Oposição reage e ameaça não votar Orçamento
Autor: Lydia Medeiros e Maria Lima
Fonte: O Globo, 10/12/2005, O País, p. 5

`Lula parece o Chacrinha, que nos velhos tempos dizia `Vim aqui para confundir, não para explicar¿, compara Tasso

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou a oposição de golpista quase ao mesmo tempo em que o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, reunia-se com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, e com o líder do partido no Senado, Arthur Virgilio, numa tentativa de reabrir o diálogo. O ataque do presidente foi o bastante para a oposição não só reagir duramente, chamando Lula até de ridículo, como também ameaçar não votar o Orçamento este ano, como pedia Wagner.

A acusação de tentativa de golpismo também pode levar setores da oposição a deixar de ajudar o governo na tentativa de evitar a convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pela CPI dos Bingos.

Virgílio criticou as afinidades e os elogios de Lula ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez:

¿ Se pudesse mandar um recado para Lula, diria: não seja ridículo! Que golpismo é esse? Nem sequer o impeachment a oposição pediu, apesar de tantos indícios de seu conhecimento do esquema de corrupção endêmica, epidêmica e sistêmica.

Até líder aliado critica os ataques

Tasso estranhou a entrevista de Lula, que considerou contraditória em relação ao trabalho de Wagner:

¿ Cada vez mais o presidente parece estar confuso, intranqüilo, com idéias desencontradas e pouco claras em relação ao governo, às explicações sobre economia e política e sobre o entendimento da crise. Parece o Chacrinha, que nos velhos tempos dizia: `Vim aqui para confundir, não para explicar¿.

O líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN), citou entrevista de Lula, concedida esta semana, em que ele chamou a oposição de radical e de direita. Segundo ele, somadas às declarações de Montevidéu, as palavras do presidente não têm nexo e estão ¿perdendo a graça¿:

¿ Quem quer dar o golpe? Marcos Valério? Roberto Jefferson? José Dirceu? O golpe a que ele se refere é o que os dele querem dar. Cumprimos nosso dever de investigar e não vamos recuar. Lula, no exterior, vê fantasmas. Quando sai, toma uma dose do efeito Chávez e diz coisas sem nexo, mesmices e repete argumentos que não colam.

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), também lamentou as críticas de Lula:

¿ Tenho pena de nós, brasileiros, que teremos de aturar por mais um ano essa lenga-lenga do irresponsável presidente, o mais incompetente de nossa História republicana.

A nova crítica de Lula à oposição foi rechaçada também por deputados, inclusive aliados. Líder de um dos partidos da base, o PSB, Renato Casagrande (ES) afirma que nada há de anormal nas atitudes da oposição:

¿ É uma declaração contraditória, pois o presidente vive repetindo que respeita a oposição. É uma contradição à sua própria história e à do PT, que como o PSB, fizeram oposição inconseqüente no passado. Hoje PSDB e PFL também entram um pouco nessa área da oposição irresponsável, mas não vejo nada anormal. Isso faz parte de uma democracia jovem, que está se aperfeiçoando.

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), disse que as declarações de Lula não encontram eco na sociedade:

¿ Ninguém acredita que estamos fazendo golpismo. Na Venezuela, a oposição derrubou Chávez. Após alguns movimentos, ele retornou. Aqui nunca fizemos qualquer movimento para tirar o presidente do poder. E ele bem que merecia. Mas achamos melhor esperar pela eleição, quando vamos afastá-lo em definitivo e democraticamente.

O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), disse que Lula desconhece o papel da oposição, que é fiscalizar, criticar e sugerir mudanças:

¿ O presidente está perdendo a compostura que o cargo exige. Ele começa a falar coisas que fazem as pessoas perderem o respeito por ele. Se houvesse a menor intenção da oposição de agir de forma golpista, ele já teria sofrido o impeachment.