Título: INFLAÇÃO FORA DO ALVO
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 10/12/2005, Economia, p. 35

IPCA acumula alta de 5,31% no ano até novembro, acima da meta de 5,1% para 2005

Mesmo com todo o aperto monetário que elevou os juros básicos da economia para 19,75% ao ano em agosto (estão agora em 18,5%), o país não conseguiu acertar o alvo da meta de inflação, fixado em 5,1% para este ano. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta o sistema de metas do governo, ficou em 0,55% em novembro e, com esse resultado, acumula alta de 5,31% no ano, faltando um mês para 2005 terminar, de acordo com os números divulgados ontem pelo IBGE. Mas o resultado fará o Brasil ficar dentro do intervalo estabelecido: o piso para o ano é de 2% e o teto, de 7%. Analistas acreditam que 2005 feche com inflação entre 5,5% e 5,7%.

¿ Pela primeira vez desde 2000, a inflação anual deve ficar inferior a 6%, a menos que se repita a inflação de dezembro do ano passado, de 0,85%. Mas não existem indicações de uma taxa desse tamanho até o momento ¿ afirmou Eulina Nunes dos Santos, gerente do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

Não será a primeira vez que o centro da meta de inflação será ultrapassado. Desde 1999, quando o sistema foi implantado, o Brasil só acertou o alvo em 2000. Naquele ano, o IPCA ficou em 5,9% contra a taxa fixada de 6%. Nos outros seis anos, o alvo foi ultrapassado. Mas os analistas não vêem esse resultado como uma má notícia. Ressaltam que a inflação anual do país baixará quase dois pontos percentuais: em 2004, a taxa ficara em 7,6%.

¿ A meta foi cumprida. Afinal o teto está em 7% e, se não fosse a gordura no preço da gasolina, que está com os valores acima do mercado internacional, a inflação ficaria em torno de 5,2%. Seria possível baixar o preço do combustível em 8%, para respeitar a paridade internacional ¿ disse Marco Antônio Franklin, sócio da Plenus Gestão de Recursos.

Cenário positivo para 2006

Para o economista, o cenário da inflação para 2006 é dos melhores. Não há resíduos de reajustes para contaminar o ano e o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), que reajusta as tarifas de energia elétrica, está em 1,22% no ano. Enquanto isso, o IGP-DI, que serve para atualizar as contas telefônicas, acumula alta de 1,16% até novembro:

¿ É um cenário muito bom. Ou seja, estamos com uma inflação apenas um ponto percentual acima da meta para 2006, que é de 4,5%.

Essa é a mesma análise do Departamento Econômico do Bradesco. ¿Câmbio em patamar razoável, juros ainda altos, preços no atacado acumulando deflação garantem uma herança positiva para o próximo ano. Persiste o cenário de maior probabilidade de atingir o centro da meta de inflação em 2006¿, diz o relatório do banco.

A inflação em novembro ficou dentro das expectativas dos analistas. O peso menor dos reajustes dos combustíveis ajudou o índice a cair de 0,75% para 0,55% no mês. O grupo transporte, depois de registrar alta de 2,21% em outubro, ficou em 0,66% em novembro. A redução só não foi maior pelos problemas climáticos que fizeram o grupo alimentação passar de uma variação de 0,27% em outubro para 0,88% no mês passado, a maior do ano. A batata, por exemplo, subiu 43,89%:

¿ Mas são altas passageiras. Um efeito temporário nos produtos in natura ¿ explicou Eulina.

Apesar de a taxa de novembro ter vindo dentro das projeções do mercado, as apostas estavam em 0,4% há três semanas atrás, antes da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Elson Teles, economista-chefe da Corretora Concórdia, lembra que, se for feita a comparação com as projeções menos recentes, o índice de 0,55% de novembro foi uma surpresa negativa:

¿ Isso vai ser levado em conta na próxima reunião que decidirá sobre a taxa básica de juros. A queda deve se manter em meio ponto percentual, chegando a 18% ao ano.

O fato de os juros altos terem sido citados por empresários e até membros do governo como os responsáveis pela queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto de todas as riquezas geradas no país) no terceiro trimestre não deve tornar maior a queda dos juros:

¿ O Banco Central olha o comportamento da demanda. E o consumo das famílias subiu (0,8%). O problema foi mais do lado da produção ¿ lembra Teles.

Selic: economistas divergem sobre corte

O economista afirma que os núcleos da inflação (conta que retira do IPCA as variações mais fortes) ainda mostram um número anual alto para meta fixada de 4,5% de 2006. A média dos núcleos ficou em 0,42% em novembro, número ligeiramente inferior ao 0,49% registrados em outubro. Com isso, no ano, teríamos inflação de 5,2%, acima da meta do ano que vem.

¿ Não é uma taxa que deixa o Banco Central confortável para fazer cortes mais ousados ¿ diz Teles.

Franklin é mais otimista e acredita que o BC pode surpreender e fazer um corte de 0,75 ponto percentual na próxima reunião deste mês.

Para dezembro, Eulina, do IBGE, não vê muitas pressões à vista. Houve reajustes de ônibus urbanos em Recife, de ônibus intermunicipais em Belo Horizonte e reajuste de água e esgoto em Fortaleza:

¿ Mas são regiões que não têm um peso grande.

Enquanto o IPCA já estourou a meta fixada, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variações de preços de famílias que ganham de um a oito salários-mínimos, ficou em 0,54%. No ano, está em 4,63% e, nos últimos 12 meses, em 5,23%.