Título: Deputados na fila da degola apresentam emendas
Autor: Evandro Éboli e Maria Lima
Fonte: O Globo, 11/12/2005, O País, p. 5

Se forem cassados, Comissão de Orçamento decidirá se mantém recursos na previsão de gastos do governo em 2006

BRASÍLIA. Na fila da cassação por causa do escândalo do mensalão, 12 deputados aproveitam enquanto ainda exercem o mandato para garantir verbas para suas bases eleitorais e apresentam suas emendas para o Orçamento de 2006. Cada um teve direito a apresentar emendas que totalizam R$5 milhões. E nenhum deles deixou sequer um centavo de fora.

Não há nada de ilegal na apresentação das emendas. Os parlamentares ainda estão no exercício do mandato. Se forem cassados, a Comissão de Orçamento decidirá se mantém ou não as emendas deles na previsão de gastos do governo para 2006.

Para os absolvidos, a liberação das emendas vai ajudar na campanha de 2006, ainda que as pretensões da maioria tenham ido para o espaço após o escândalo do caixa dois.

Mesmo absolvido, Mabel desiste do governo de Goiás

Até para quem foi absolvido, caso do líder do PL, Sandro Mabel (PL-GO), a mudança de planos se impõe. Antes do escândalo, ele iria disputar o governo de Goiás. Não vai mais. Deve tentar o Senado ou a reeleição na Câmara. Mabel dividiu os R$5 milhões a que tem direito em dez projetos, que vão desde reformas no aeroporto de Goiânia a serviços na área de saúde.

O deputado Pedro Henry (PP-MT), se mantiver o mandato, não vai mais disputar o Senado, como queria: tentará voltar para a Câmara. Dos R$5 milhões de suas emendas, R$2 milhões foram para educação e saúde.

Em vias de ser cassado antes mesmo da aprovação do Orçamento, Romeu Queiroz (PTB-MG) diz que apresentou as emendas no valor de R$5 milhões por ter direito a fazê-lo. A votação do pedido de sua cassação no plenário da Câmara está prevista para quarta-feira, mas ele diz acreditar na absolvição.

¿ Se eu for cassado, o que não acredito que acontecerá, caberá à Comissão de Orçamento resolver o que fazer com minhas emendas. Mas isso não me preocupa mais ¿ diz Queiroz.

Ele distribuiu os R$5 milhões em 13 emendas. A maior delas, de R$1 milhão, é destinada a projetos do Ministério do Turismo, pasta comandada pelo conterrâneo e correligionário Walfrido Mares Guia. O ministro está trabalhando intensamente pela absolvição de Queiroz.

O relator da Comissão Mista de Orçamento, Carlito Mers (PT-SC), diz que a preocupação é resolver os casos de deputados licenciados, como o ex-líder José Janene (PP-PR), que apresentaram os R$5 milhões de emendas, e seus suplentes também. Como a previsão é de que todos os 513 parlamentares tenham direito de apresentá-las, a prioridade será dos titulares.

¿ Vocês já querem cassar o João Paulo e os outros? Eles são deputados e têm todo direito de apresentar emendas. Eu vou lutar como um leão para impedir a cassação do João Paulo. Sobre as emendas, elas terão encaminhamento normal. Eu não prejulgo ninguém ¿ disse Mers.

Roberto Brant (PFL-MG) já anunciou que está fora da política a partir de 2007, mesmo que seja absolvido. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) não vai mais disputar as prévias do PT para o governo de São Paulo. Caso se livre, vai buscar a reeleição. Ele apresentou 21 emendas, e a maior delas é para ações de saúde.

Josias Gomes (PT-BA), que não tinha pretensões ousadas para 2006, disse que se escapar vai tentar a reeleição.

Considerado forte candidato ao governo do Pará em 2006, o ex-deputado Paulo Rocha (PT), que renunciou ao mandato para não ter os direitos políticos suspensos, vai tentar voltar à Câmara.

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