Título: META A ALCANÇAR
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Fonte: O Globo, 11/12/2005, Opinião, p. 6

Não há observador do jogo pesado da diplomacia comercial que aposte no êxito de mais esse encontro multilateral, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), a se realizar em Hong Kong, a partir de terça-feira. Incluído na Rodada de Doha, lançada no final de 2001 para uma ampla liberalização do comércio mundial, o encontro desta semana, como vários anteriores, tem como ponto central da agenda o corte nos bilionários subsídios agrícolas distribuídos fartamente pelos países do Primeiro Mundo, causa de graves distorções nos mercados.

Em troca, acena-se com o relaxamento de barreiras tarifárias e outras restrições à importação de produtos industrializados e serviços por parte de países emergentes como o Brasil e economias mais pobres, em geral exportadores de alimentos prejudicados por esses subsídios. Pelo calendário definido em Doha, o mundo tem até dezembro de 2006 para chegar a um acordo. Não será fácil.

Por haver muitos interesses econômicos e políticos em jogo, a diplomacia comercial trafega em terreno acidentado. A União Européia, os Estados Unidos e o Japão despendem com esses subsídios US$1 bilhão por dia. O que distorce preços e impede que países mais eficientes na produção de alimentos, pobres (africanos) ou remediados (Brasil e Argentina, por exemplo), não tenham condições de competir com fazendeiros que chegam a receber doações oficiais que podem dobrar suas receitas. Como ocorre em algumas regiões produtoras de algodão nos Estados Unidos.

Apesar das dificuldades, têm havido alguns avanços. O maior partiu dos americanos, que passaram a admitir um corte de 60% nos subsídios. Mas querem uma contrapartida: europeus e japoneses, os que mais anabolizam a agricultura, teriam de podar em cerca de 80% esse doping financeiro.

Este é o impasse, pois, no bloco europeu, a França é radical opositora desse corte. Mais ainda agora, com o presidente Jacques Chirac fragilizado politicamente. Os prognósticos não podem mesmo ser otimistas para Hong Kong. Mas a liberação do comércio é meta que precisa continuar a ser perseguida, por se tratar de eficiente instrumento de combate à pobreza no planeta.