Título: `O PT não desapareceu como partido¿
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 11/12/2005, O País, p. 10

Gushiken rebate denúncias e diz que foi `grande ingenuidade¿ do ex-tesoureiro do PT usar esquema de Marcos Valério

O novo gabinete está a quilômetros do Planalto. Seu ocupante, o outrora poderoso ministro-chefe da Secom, Luiz Gushiken, rebate denúncias contra ele levantadas na CPI dos Correios e diz que só cuida de Assuntos Estratégicos, na secretaria da qual é titular. Mas esse ex-integrante do ¿núcleo duro¿ palaciano continua no circuito do governo e do PT. Gushiken nega, porém, estar coordenando a pré-candidatura de Lula à reeleição, como circula no Planalto.

Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, afirmou à CPI que o senhor interferiu a favor do pagamento antecipado da verba publicitária da Visanet à DNA. Qual a sua participação no episódio?

LUIZ GUSHIKEN: Pizzolato mentiu descaradamente, lançou calúnia. Nunca conversamos sobre pagamento antecipado da Visanet, não era da alçada da Secom. Só posso interpretar como má-fé, para me envolver, e uma tentativa de usar uma conversa sobre a situação de empresas coligadas ao BB, como Visanet, BrasilPrev e outras. Suas campanhas nunca passaram pela Secom. As únicas que tinham o conteúdo, e não a parte financeira, submetido à Secom eram as que tinham o carimbo do BB, como a do Ourocard. Mais nada.

A que o senhor atribui a atitude de Pizzolato?

GUSHIKEN: Os ataques de Pizzolato podem estar relacionados ao conflito entre o Opportunity e os fundos de pensão, uma disputa pelo controle da BrasilTelecom que envolve R$16 bilhões. Nessa disputa, na qual fui vítima até de espionagem, ele se destacou como defensor de Daniel Dantas. Num determinado momento, ele começou a ter um comportamento estranho, a bater em mim. Sabíamos que ele tinha se bandeado para o lado do Dantas. Pizzolato era ligado ao Marcos Valério desde 1998. A maior parte dos problemas nos fundos de pensão foi apontada pela Secretaria de Previdência Complementar, que não apontou mais porque tem uma estrutura debilitada. Quando tentamos montar uma melhor fiscalização, o Congresso não aprovou. O PFL derrubou.

O que acha da investigação da CPI até agora?

GUSHIKEN: Esse processo da crise, contraditoriamente, tem um lado rico. A questão ética nivelou os partidos. É obrigatória uma mudança institucional. Se não houver reforma política, vai se repetir tudo de novo no futuro. O caixa dois, tudinho...

Qual a perspectiva de alianças para a reeleição de Lula?

GUSHIKEN: O jogo é complexo. A cada pesquisa, mudam prognósticos, há alianças estaduais. Se cair a verticalização, o quadro é um. Acredito que seja possível, interessa a todos. Não se pode obrigar os partidos a estar juntos por força da lei.

A queda na popularidade do presidente não inviabiliza a reeleição?

GUSHIKEN: A situação muda no último ano de governo, as ações ficam mais evidenciadas.

Quais as chances eleitorais do PT após os escândalos?

GUSHIKEN: Foi o maior baque da história do partido, mas ele é maior do que a crise. O PT é produto de forças sociais, de uma necessidade histórica. Não desapareceu como partido.

Mas perdeu o discurso da ética, principal bandeira...

GUSHIKEN: Ficou uma lição. A missão do PT é se esforçar para mudar regras do sistema político. Temos um nó, o sistema de governabilidade. Para dar maioria no Congresso, os partidos querem participação no Executivo, mas não se responsabilizam por seus atos. É preciso criar leis. Trabalhar só com o caixa um. É preciso um choque traumático para despertar. É o efeito purificador da crise.

Por que o PT errou tanto?

GUSHIKEN: O PT participou de um processo antigo, o esquema de Valério nasceu lá atrás. Delúbio se apropriou de esquema antigo. Foi uma grande ingenuidade. Eticamente, sob o ponto de vista pessoal, Delúbio não tem essa mácula. Ele cometeu uma imprudência ao mexer com caixa dois. Mas não é um PC Farias, a diferença é grande.