Título: PARTIDO NEGA PAGAMENTO A LARANJA NA CAMPANHA DE 2002
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 12/12/2005, O País, p. 3

Em endereço onde empresa teria funcionado de 2002 a 2003, há uma marcenaria e uma oficina

SÃO PAULO. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, e o secretário de Finanças do partido, Paulo Ferreira, negaram ontem que o partido tenha utilizado notas fiscais emitidas por uma empresa laranja durante a campanha eleitoral que elegeu Lula presidente em 2002, conforme publicou em sua edição de ontem a ¿Folha de S.Paulo¿. A reportagem diz que o PT pagou, em 2002, R$795,7 mil à empresa Santorine Comercial e Distribuidora Ltda, pela produção de 267.550 faixas e 675 mil bandeirinhas distribuídas durante a campanha eleitoral.

A Santorine, no entanto, seria uma empresa de fachada e registrada como distribuidora de bebidas e alimentos. Ela foi criada em 2000 e fechada em fevereiro de 2003, logo depois do término da campanha eleitoral de 2002.

A empresa forneceu endereços como se funcionasse em Campinas. Entretanto, nos endereços que constam como seus, funcionam outras empresas, como uma marcenaria e uma oficina de lanternagem. O proprietário do imóvel onde funcionaria a Santorine em Campinas não se lembra de o local ter sido ocupado pela empresa que emitiu as notas fiscais para a campanha de Lula. Elas foram apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como gastos da campanha presidencial.

O PT diz que as cópias das notas fiscais emitidas pela Santorine estão disponíveis na contabilidade da campanha de Lula. Na nota oficial do PT divulgada ontem, Berzoini e Paulo Ferreira afirmam que ¿a análise da contabilidade da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência em 2002 não indica irregularidade na transação comercial realizada naquele ano com a empresa Santorine Comercial e Distribuidora Ltda¿. Por outro lado, Berzoini e Ferreira não comentam no documento o fato de no endereço fornecido pela empresa em Campinas funcionarem outros estabelecimentos comerciais.

A reportagem da ¿Folha¿ afirma ainda que a empresa, que prestou serviços à campanha de Lula, teria laranjas como sócios e que, conforme seu registro na Junta Comercial, seria uma distribuidora de bebidas e produtos alimentícios e não uma empresa destinada à produção de faixas e bandeiras publicitárias. A empresa tinha três sócias à época da campanha, mas uma era dona de casa, outra desempregada e a terceira estranhou o fato de seu nome constar de registros de uma empresa usada para trabalhar numa campanha eleitoral.

A atual direção nacional do PT, segundo a nota divulgada ontem, recorreu à contabilidade da campanha de Lula para conferir a transação e encontrou todas as notas fiscais emitidas pela empresa referentes a 267.550 faixas plásticas e 675 mil bandeiras fornecidas pela Santorine para a campanha de Lula. Também estão anexadas à contabilidade cópias dos cinco cheques nominais à empresa, que somam R$795,7 mil.

¿A análise dos documentos apresentados ao TSE mostra que a transação comercial efetuada pela campanha de Lula com a Santorine Comercial e Distribuidora está dentro dos trâmites legais¿, diz a nota divulgada pelo partido. A nota lembra, ainda, que a campanha de Lula em 2002 teve suas contas integralmente aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.