Título: Ganho de Vale e Gerdau supera o dos bancos
Autor: Ronaldo D'Ercole e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 12/11/2004, Economia, p. 27

Campeões imbatíveis durante anos, os bancos começam a perder terreno para grandes companhias não financeiras quando o assunto é lucratividade. Levantamento da consultoria Economática mostra que, enquanto os quatro maiores bancos privados do país tiveram juntos lucros líquidos de R$ 6,9 bilhões nos primeiros nove meses deste ano, as quatro maiores empresas não financeiras em valor de mercado (Vale do Rio Doce, Gerdau, Telefônica e AmBev) ganharam juntas R$ 9,3 bilhões.

O lucro acumulado por esses bancos cresceu 8,6% em relação aos resultados de janeiro a setembro de 2003, mas os ganhos das quatro companhias tiveram um salto de 38,4%.

¿ Isso era de se esperar, porque das quatro empresas não financeiras duas são grandes exportadoras de minérios e aço, commodities cuja demanda explodiu na Ásia, puxada pela China ¿ observa o coordenador para a América Latina da Economática, Einar Rivero.

Crescimento impulsiona setores sensíveis à renda

Sobre o lucro de R$ 1,475 bilhão registrado pela Telefônica/Telesp este ano, Rivero diz que é o melhor resultado registrado pela empresa nesse período nos últimos 17 anos. Num reflexo do aumento do nível de atividade econômica, a Telefônica teve de janeiro a setembro faturamento de R$ 9,8 bilhões, também recorde no período.

Apesar da redução no crescimento chinês esperada para o ano que vem, a demanda asiática deve se manter elevada, o que garantirá que setores como os de siderurgia e mineração tenham lucros superiores ao do setor bancário em 2005:

¿ Historicamente, os bancos têm tido resultados bastante superiores aos do setor produtivo e esse quadro deve ser mantido em 2005. Mas siderúrgicas e mineradoras são um caso à parte: mesmo com a diminuição da demanda da China, as commodities continuam em patamar de preços bastante elevado, o que garante gordos resultados também no ano que vem ¿ avalia André Querne, gestor da Máxima Asset.

Ricardo Magalhães, gestor da Mellon Global, destaca que a Vale aumentará preços em 2005, o que deve ajudar a impulsionar os lucros da empresa. Já a Gerdau aumentará a produção para atender à forte demanda.

Querne lembra que, ao contrário de setores como mineração e siderurgia, que podem ter explosões de rentabilidade, o mesmo não ocorre com os bancos, que costumam ter receita bastante estável:

¿ A ampliação desses resultados só seria possível num cenário de forte crescimento de renda, o que impulsionaria a concessão de crédito.

E o crescimento sustentado da economia pode representar uma reação mais forte para empresas como AmBev.

¿ Consumo é a variável-chave para setores sensíveis à renda. E 2005 pode ser um ano de crescimento em vendas. Mas dificilmente essas empresas conseguirão superar o lucro dos bancos ¿ acredita Magalhães.

Outro estudo da Economática mostra que, nos últimos dez anos, apenas a Petrobras conseguiu ter ganhos superiores ao do setor bancário.