Título: CARAPUÇA
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 12/12/2005, Economia, p. 16

O Banco Central tem reagido às críticas de que exagerou na dosagem dos juros, argumentando que o sacrifício de hoje significa um porvir promissor. De fato a inflação baixa contribui para alargar os horizontes da economia, mas como na verdade a política de juros altos troca inflação por dívida pública, o futuro também pode ficar comprometido.

O desequilíbrio das contas externas deixou de ser o maior empecilho ao crescimento da economia brasileira. O país agora depende cada vez menos de poupança do exterior para fechar essas contas. Mas a dívida interna se tornou um sorvedouro de poupança doméstica, que poderia estar sendo canalizada para os investimentos que possibilitariam ao Brasil crescer mais do que parcos 2,6%.

Temos o consolo de que os juros finalmente começaram a cair, ainda que a um ritmo sofrível. Esta semana cairão 0,5 ponto percentual ¿ o Banco Central não dará o braço a torcer ¿ fechando o ano em 18%, acima, portanto, do patamar que se encontravam em dezembro de 2004. Razão pela qual a dívida aumentou.

O tempo passa e o governo Lula corre o risco de terminar sem que tenha conseguido passar ao setor privado um quilômetro sequer de novas concessões em estradas federais. Pode até ser que isso seja de propósito, pois todas as tentativas de se pôr em prática esse programa foram tão mal feitas que o Tribunal de Contas da União suspendeu os editais, e os próprios candidatos concluíram que pelas regras estipuladas as concessões ficariam inviáveis.

O problema é que algumas das estradas selecionadas para a concessão estão em estágio terminal. Já há parlamentares sugerindo que se decrete estado de emergência na BR-101, no trecho de Niterói a Campos, antes que outras pontes venham a cair.

No trecho da BR-101 entre o Rio e Itacuruçá, com obras prometidas há cinco anos, há engarrafamentos crônicos e risco de acidentes. A rodovia precisa de um viaduto para acesso ao Porto de Sepetiba e de duplicação urgente pelo menos nos seus cinco quilômetros iniciais.

As empresas de call center se tornaram grandes empregadoras no Brasil. Já há quatro mil delas empregando cerca de 600 mil pessoas.

A maior de todas hoje é do grupo Telemar e foi a companhia brasileira que mais empregou pessoas nos últimos cinco anos (o quadro de pessoal chega a 51 mil funcionários). Somente no Rio, essa empresa tem sete mil empregados (ocupando totalmente o antigo prédio da Mesbla, na Rua do Passeio); outros cinco mil trabalham em Niterói. E para a grande maioria trata-se do primeiro emprego. A cada 60 dias três mil pessoas são treinadas, para preencher as vagas que surgem com a rotatividade da mão-de-obra. Muitos acabaram de concluir o ensino médio (segundo grau) ou estão nos primeiros anos do curso universitário, e deles se espera uma produtividade de 80 atendimentos por dia, numa jornada de trabalho de seis horas.

O Rio teria tudo para abrigar várias companhias de call center, indo ao encontro da tese do prefeito Cesar Maia de que a economia da metrópole deve progressivamente se direcionar para o setor de serviços. No entanto, o Rio é a capital que cobra a alíquota mais alta de ISS (5%) sobre a atividade, e, assim, corre o risco de perder essas empresas para outros municípios.

Desenvolvimento econômico realmente não é algo que faça parte da agenda da administração municipal.

O Espírito Santo devia a Deus e ao mundo anos atrás e parecia inviável, mesmo atraindo fortes investimentos em setores como siderurgia, celulose, mineração e agricultura.

Esse ambiente mudou: o estado pagou as contas atrasadas e já conseguiu este ano investir 10% de sua receita própria. No orçamento de 2006 está prevista uma ampliação para 12% (superando o valor que o governo estadual paga anualmente para amortizar dívidas com a União), e sem os chamados contingenciamentos de verbas.

Não houve fórmula mágica. Dez mil funcionários contratados temporariamente foram dispensados em 2003 e todos os poderes se comprometeram com a disciplina orçamentária. Pelo lado da arrecadação, não houve aumento de impostos, e com as medidas administrativas a receita praticamente dobrou em três anos.

Dentro de quatro a cinco anos o Espírito Santo estará produzindo 400 mil barris diários de petróleo e gás e quiçá, daqui a 20 anos, algo como um milhão de barris.

Então a ordem do dia lá, em vez do crescimento econômica em si, passa a ser a melhora da qualidade desse crescimento. A questão demográfica, por exemplo, pode vir a ser um problema. A população do Espírito Santo é a que mais aumenta em termos relativos (cresce a 2,5% ao ano na região metropolitana).

No Rio, a disputa política vai postergando a definição do local onde será instalada a refinaria petroquímica na qual a Petrobras e o Grupo Ultra estão dispostos a investir. A preferência declarada dos investidores é por Itaguaí, basicamente por causa da infra-estrutura já disponível na região. Se fosse possível, a refinaria ficaria a poucos passos do Porto de Sepetiba. E Campos está longe do porto.