Título: Palestinos são tomados pela dor e a revolta
Autor:
Fonte: O Globo, 12/11/2004, O mundo, p. 30
A notícia já era esperada, mas muitos mantinham a esperança de que Yasser Arafat se recuperasse. Ontem, os palestinos da Cidade de Gaza e da Cisjordânia acordaram com a notícia de sua morte e com um misto de dor, revolta e incerteza. Milhares de pessoas tomaram as ruas dos territórios ocupados em manifestações pelo homem que viam como símbolo da luta por um Estado palestino.
¿ Arafat nunca morrerá. Ele é o líder, é o pai ¿ gritava um motorista de táxi sobre o capô, segurando uma foto do líder palestino, em Ramallah, Cisjordânia.
Na Praça Manara, centenas de pessoas se reuniram, colando cartazes de Arafat na estátua de um leão. Outros correram para a Muqata, o quartel-general onde ele passara os últimos anos confinado e será enterrado. Guardas consolavam uns aos outros.
¿ Este é o dia mais triste da minha vida ¿ disse uma mulher, chorando diante dos portões.
A cena se repetia em várias cidades da Cisjordânia, com muitas pessoas chorando enquanto subia a fumaça negra de pneus incendiados. Num funeral simbólico em Jenin, milhares de palestinos enterraram um caixão envolto na bandeira palestina. As lojas fecharam, com a Autoridade Nacional Palestina decretando 40 dias de luto.
Palestinos culpam Israel por morte de Arafat
Na Faixa de Gaza, disparos eram feitos para o alto, enquanto os alto-falantes transmitiam trechos do Alcorão. Um dos pontos de concentração foi o quartel-general da Cidade de Gaza. Algumas pessoas estavam enroladas na bandeira amarela da Fatah, outras usavam o emblema negro da Jihad Islâmica. Um membro das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, agora Brigadas do Mártir Yasser Arafat, desafiava:
¿ Mataremos qualquer um que tente barganhar questões que o presidente Arafat rejeitou. Sem concessões sobre Jerusalém, sem concessões sobre os refugiados.
Num dia de ânimos exaltados, soldados israelenses mataram três palestinos num ataque ao assentamento judeu de Netzarim, na Faixa de Gaza. Integrantes das Brigadas culparam Israel pela morte de Arafat e anunciaram mais violência para os próximos dias. Outro palestino foi morto na Cisjordânia, ao atirar pedras em carros de colonos judeus, perto de Hebron.
Em Jerusalém, 200 judeus extremistas comemoravam a morte de Arafat numa praça, quando a polícia chegou e prendeu quatro deles.
Não só na Faixa de Gaza, mas também nos campos de refugiados em Líbano, Síria e Jordânia, onde vivem palestinos, havia um sentimento de perda e de incerteza.
¿ Eu nunca conheci meu pai, mas conheci Abu Ammar (Arafat) ¿ disse uma refugiada do campo de Ain el-Hilweh, no Líbano. ¿ Contávamos com ele e agora ele se foi.