Título: 'Estamos todos aliviados¿
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Fonte: O Globo, 12/11/2004, O mundo, p. 31

Enquanto palestinos tratam do cerimonial fúnebre do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat, em Israel fontes ligadas ao governo do primeiro-ministro Ariel Sharon traçam planos para a retomada das negociações de paz no Oriente Médio. Segundo o deputado Ehud Yatom, do partido de direita Likud, o mesmo de Sharon, a morte de Arafat ¿é um alívio para a diplomacia israelense¿. Membro do comitê de Segurança e Relações Exteriores do Knesset (Parlamento israelense), Yatom, um ex-general do serviço de segurança interna de Israel, o Shin Bet, afirmou em entrevista ao GLOBO que o fim de Yasser Arafat pode significar o início da paz no Oriente Médio, mas adverte que qualquer tentativa de retomar o contato com os palestinos vai depender da nova administração da ANP. Renata Malkes Especial para O GLOBO

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, vem sendo muito cauteloso ao divulgar declarações sobre o fim de Yasser Arafat. Qual foi sua reação ao saber do anúncio oficial da morte do líder palestino?

EHUD YATOM: Sharon não pode, mas eu posso afirmar que estamos todos aliviados. Não só o Oriente Médio como o mundo se livrou de um criminoso de guerra. Arafat era um criminoso não só por incitar o terror que explode ônibus e mata em Israel, mas por maltratar o próprio povo palestino, que morre de fome abandonado à própria sorte nos territórios ocupados.

O governo de Israel argumenta que Arafat era um obstáculo para a paz e que não havia parceiro para uma mesa de negociações. E agora, sem ele, é possível negociar com os palestinos?

YATOM: Sem a sua presença as coisas tendem somente a melhorar. Queremos negociar, mas para que haja diálogo, Israel vai exigir estabilidade nos territórios para garantir a segurança de seus cidadãos. Sharon acredita que o substituto de Arafat irá buscar uma reaproximação, mas não neste momento de mudança. No futuro, estaremos abertos a falar com um representante do povo palestino escolhido democraticamente.

Pelo menos a princípio, o novo líder palestino não será eleito democraticamente. Isso impediria uma reaproximação?

YATOM: Não impede, mas queremos saber com quem estamos falando. Conheço todos os representantes da atual administração palestina e gente como Ahmed Qorei (o premier palestino) e Mahmoud Abbas (ex-premier palestino) não são confiáveis. Temos fontes de informação sobre tudo o que acontece nos territórios ocupados e nos próximos dias o comitê de Segurança e Relações Exteriores do Knesset (Parlamento israelense) vai discutir sobre isso. É preciso elaborar um plano de reaproximação por etapas.

Além da sensação de alívio, o senhor se considera feliz com a morte de Yasser Arafat?

YATOM: Eu não lamento.