Título: Sucessão mobiliza atenção palestina
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Fonte: O Globo, 12/11/2004, O mundo, p. 31

Com a morte de Yasser Arafat, caberá a seus sucessores tentar evitar o pior. A falta de um líder inconteste que seja respeitado por todas as correntes do movimento palestino poderia provocar não apenas o fim das negociações de paz com Israel, com o objetivo de criar um Estado palestino, como provocar uma guerra civil entre os diferentes grupos.

Para evitar um vácuo de poder, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) realizou diversas reuniões durante o período em que Arafat esteve internado para assegurar que a transição seria feita da forma menos traumática possível. Poucas horas após a morte do líder, os principais cargos já estavam ocupados.

Como presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), foi apontado o presidente do Parlamento, Rawhi Fattuh, seguindo as regras da ANP. Fattuh, de 55 anos, nasceu no campo de refugiados de Rafah, em Gaza, depois de sua família ter sido expulsa de Israel. Ele se filiou à Fatah, de Arafat, aos 18 anos.

Politicamente hábil, conseguiu ser aceito tanto pela velha guarda do movimento palestino como pelos mais jovens. Com o apoio da primeira, foi alçado ao cargo de ministro da Agricultura da ANP em 2003. Apoiado pelos mais jovens, foi eleito presidente do Parlamento em março deste ano. Falta a Fattuh, no entanto, consistência política e apoio popular, o que o faz ser considerado uma solução temporária.

Os dois mais fortes candidatos à sucessão de Arafat são Ahmed Qorei e Mahmoud Abbas, ambos fundadores da Fatah.

Qorei é o primeiro-ministro da ANP e recebeu ontem o controle de todas as forças de segurança. Até então, Arafat se recusara a ceder o comando das milícias para o premier.

Kadumi afirma que enfrentamento é o caminho

Mas o favorito para assumir o poder real do movimento palestino é Abbas. Ele assumiu ontem a presidência da OLP por ser o secretário-geral da entidade. Articulador dos Acordos de Oslo de 1993, ano passado ele foi primeiro-ministro da ANP por quatro meses. Mas, irritado por Arafat não ceder o controle sobre as forças de segurança, deixou o governo. Só voltaria a conversar com Arafat duas semanas atrás, quando o líder já estava doente.

Surpreendendo a muitos, o controle da Fatah, grupo majoritário dentro da OLP, coube a Farouk Kadumi, que era o secretário-geral do partido. Ao contrário dos moderados Abbas e Qorei, Kadumi foi contra o acordo de paz de 1993. Por causa disso, enquanto quase toda liderança palestina voltou para os territórios ocupados, em 1994, ele permaneceu em Túnis.

Desafiador, ele disse ontem que não abdicará, como gostariam Abbas e Qorei. E reafirmou que o enfrentamento com Israel não pode ser descartado.

¿ A resistência é o caminho para se alcançar um acordo político.

A ANP anunciou ontem que uma eleição deve ser realizada em 60 dias para que seja escolhido um novo presidente.