Título: Interventores têm plano para Vasp operar como empresa de baixo custo
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 13/12/2005, Economia, p. 22

Proposta depende do aval de juiz e de comitês de trabalhadores e credores

SÃO PAULO. Os interventores da Vasp entregaram ontem ao juiz da 1ª Vara de Recuperação e Falências de São Paulo, Alexandre Lazzarini, um plano de recuperação para a empresa, que está parada desde janeiro e tem uma dívida estimada em R$3,5 bilhões. A intenção é que a Vasp volte a operar com base num modelo de baixo custo, similar ao da Gol, inicialmente com apenas sete dos 27 aviões próprios da empresa. A Vasp prestaria também serviços de manutenção e de transporte de cargas.

¿ A nossa expectativa é que em até cinco dias o juiz dê seu parecer, favorável ou não ¿ afirmou o diretor da Associação dos Pilotos da Vasp (Apvasp), Aerowaldo Panadés, que integra o grupo de interventores nomeados pela Justiça do Trabalho.

Empresa espera obter R$4 bi com ações judiciais

O plano de recuperação prevê ainda que os credores da Vasp passem a ser cotistas de seis grandes fundos, que abrigariam as disputas judiciais movidas pela empresa contra União, estado, Correios e GE Capital. A Vasp calcula que, caso ganhe todas as ações judiciais, poderá receber até R$4 bilhões, recursos que seriam repassados aos credores.

Encomendado à Tendências, empresa liderada pelo ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, e à BWAC, consultoria especializada em transporte aéreo, o projeto sugere usar o patrimônio imobiliário da Vasp para assegurar o reinício das operações. O último balanço publicado pela empresa, de junho de 2004, registra R$103,1 milhões em imóveis ¿ a maior parte adquirida durante o período em que a Vasp ainda era ligada ao governo de São Paulo.

A apresentação do plano foi possível depois que a Justiça aceitou, no início de outubro, um pedido para enquadrar a Vasp no mecanismo de recuperação judicial, que substituiu a concordata na nova Lei de Falências. Mas mesmo que a Justiça aprove esse plano, a Vasp terá ainda de obter o sinal verde de três comitês: o de trabalhadores, o de credores com garantias reais e o de credores quirografários (que não têm privilégio na hora de se determinar a ordem de pagamento).

¿ Não haverá dificuldade de aprovar o plano junto aos credores ¿ disse Panadés.

A Vasp, que chegou a ser uma das principais empresas aéreas do país, vem colecionando histórias nebulosas. Seu antigo controlador, o empresário Wagner Canhedo, é acusado pelo Sindicato Nacional dos Aeroviários de usar contas de funcionários da empresa para depósitos e saques de grandes quantias em dinheiro. Só uma dessas contas, cujos comprovantes foram enviados ao juiz da 14ª Vara do Trabalho de São Paulo, teria movimentado mais de R$43 milhões. O caso veio a público em maio.

Um mês depois, a Polícia Civil descobriu em São Bernardo do Campo (ABC paulista) um galpão onde estavam escondidas peças, equipamentos, veículos e até uma turbina de Boeing 737 pertencentes à Vasp. Os equipamentos, com valor estimado em R$8 milhões, teriam sido furtados de instalações da Vasp em Congonhas, inclusive de áreas lacradas pela Justiça. Preso em flagrante, o dono do depósito, Anésio Bovolon Júnior, disse que guardara os equipamentos a pedido de César Canhedo, filho de Wagner Canhedo.