Título: 'Serra pagará caro por candidatura'
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Fonte: O Globo, 10/12/2005, País, p. A3
Até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva opinou sobre o embate interno do PSDB em torno dos possíveis presidenciáveis tucanos em 2006. Ontem, em entrevista à revista Carta Capital, Lula apontou que a candidatura de seu ex-adversário nas urnas e atual prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB) parece mais frágil do que a do governador paulistano Geraldo Alckmin.
- Parece-me que tudo caminha para o Alckmin, mais que o Serra. Até porque o prefeito pagaria um preço enorme por abandonar São Paulo, depois de um ano e quatro meses na prefeitura - afirmou Lula.
Os líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), reagiu às declarações do presidente Lula com ironia:
- Pelo menos ele deveria nos dar o direito de escolher o nosso candidato, já que somos obrigados a ouvi-lo.
O ''apoio'' velado do petista a candidatura do governador pode ser explicado pelo resultado da última pesquisa do CNT-Sensus do mês de novembro em que Serra aparece como o único candidato que derrotaria Lula no segundo turno.
Apesar de entrar no debate sobre os possíveis cenários eleitorais em 2006, o presidente fugiu das perguntas relacionadas à reeleição respondendo apenas que as decisões devem ser tomadas em fevereiro ou março. Lula questionou mecanismos da reeleição e voltou a defender o mandato único por tempo maior., defendendo um único mandato por um período de tempo maior.
O presidente também comentou o modelo de alianças políticas e disse que se candidatar a reeleição não significa ''vender a alma ao diabo''.
- Caso contrário, se ganhar, é vitória de Pirro, ganha e não governa. Então, eu medito muito, penso muito, para tomar essa decisão. Porque, na hora em que tomar, eu sei que é para ganhar; não tomaria a decisão para disputar. Sei que o PT estará mais fragilizado. A não ser que devolva aos acusadores as acusações que fizeram contra ele - afirmou.
Lula não poupou críticas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O petista reprovou os comentários de FH sobre o governo e citou a resposta do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton quando foi questionado a respeito da guerra no Iraque. Segundo Lula, Clinton respondeu que na cultura política norte-americana não é de bom tom comentar os atos de outras administrações.
- Não sei como um presidente da República pode ficar fazendo comentários sobre outro sem olhar o telhado dele. Depois que você chega a Presidência de um país você não precisa ser mais nada. Você pode voltar para a sua vida, cuidar da família, pode fazer uma palestra aqui e outra ali, pode ser conselheiro - disse.