Título: DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA CAIRÁ PARA US$86,9 BI
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 15/12/2005, Economia, p. 31

Sobre a antecipação do pagamento ao FMI, Lula afirma que decisão mostra seriedade no trato das finanças

BRASÍLIA, BOGOTÁ e WASHINGTON. O pagamento antecipado de compromissos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai permitir que a dívida pública externa fique abaixo de US$100 bilhões depois de quatro anos. O Brasil vai quitar ainda em 2005 um débito de US$15,5 bilhões com o FMI, o que reduzirá a dívida dos atuais US$102,4 bilhões para US$86,9 bilhões. Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, a idéia do governo é melhorar a imagem do país junto aos investidores estrangeiros.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a antecipação do pagamento ao FMI foi acertada antes de seu embarque com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para a Colômbia. Segundo ele, a decisão também demonstra a seriedade do governo no trato das finanças, lembrando que ano passado, o Brasil não renovou o acordo com o Fundo pois o país estava numa situação boa

¿ Agora, temos outra decisão importante: devolver o dinheiro que no governo anterior foi tomado emprestado e não necessitávamos mais.

Prazo de emissões de dívida aumentaram

O pagamento ao Fundo completa uma série de medidas adotadas ao longo deste ano para melhorar a imagem do país no exterior. Uma das principais ações foi a retirada dos C-Bonds do mercado. Esses títulos foram emitidos em 1994, como parte da reestruturação da dívida externa brasileira.

Segundo o secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani, o governo também tem conseguido ampliar o prazo médio das emissões de títulos da dívida externa. Enquanto em 2001 esse prazo era de 4,8 anos, em 2005 ele passou para 11,71 anos.

FMI elogia ortodoxia da política econômica do Brasil

Outra novidade em 2005 foi o fato de o governo ter feito, pela primeira vez na história, uma emissão em reais. Foram captados o equivalente a US$1,5 bilhão de um título com vencimento em 2016.

O governo também anunciou que vai abater, nos próximos dois anos, US$2,8 bilhões do estoque da dívida externa. O Tesouro vai deixar de rolar 100% do principal da dívida para passar a rolar cerca de 80%.

¿ Essas medidas fazem parte de um trabalho para entregar ao próximo governo um bilhete premiado, para que o Brasil chegue ao grau de investimento (dado aos países nos quais as agências de classificação de risco recomendam investir) ¿ disse Levy.

Segundo o economista da consultoria Tendências Guilherme Maia, o trabalho feito pelo governo brasileiro este ano foi um importante sinal de melhora nos índices de solvência.

¿ O governo aproveitou o bom momento para honrar compromissos ¿ disse Maia, que também acredita que a medida também contribui para que o Brasil chegue ao grau de investimento.

Em Washington, o diretor do FMI, Rodrigo Rato, elogiou a ortodoxia brasileira.

¿ Se você comparar a posição do Brasil agora, com a posição em 2002, você vê claramente que políticas ortodoxas produzem resultados muito rápidos ¿ disse.

COLABOROU Luiza Damé, enviada especial à Colômbia