Título: MENOS TRABALHO PARA OS ANALFABETOS
Autor: Flávia Barbosa e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 15/12/2005, Economia, p. 32

Em 2004 emprego cresceu para os mais escolarizados, jovens e mais experientes

BRASÍLIA. No ano em que a economia cresceu 4,9% e houve forte geração de empregos com carteira assinada ¿ 1,862 milhão de postos, o melhor resultado da série histórica iniciada pelo Ministério do Trabalho em 1985 ¿ só houve espaço no mercado para os brasileiros que ultrapassaram a 4ª série do ensino fundamental. Dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgados ontem pela pasta, revelam que em 2004 foram eliminados 136.821 postos ocupados por pessoas analfabetas e com até quatro anos de estudo.

A situação dos que não tiveram acesso à educação se contrapôs à dos trabalhadores mais qualificados, em que as contratações superaram as demissões. A oferta de emprego para quem tem segundo grau completo subiu 13,7%, atingindo 1,192 milhão de vagas, em 2004. Em seguida, ficaram com as melhores oportunidades de trabalho pessoas com formação superior incompleta (alta de 10,18%) e segundo grau incompleto, com 7,51%. O número de vagas destinadas a brasileiros com curso superior completo também cresceu, 5,37%.

O levantamento mostrou, ainda, um dado surpreendente sobre a expansão do emprego por faixa etária, que foi mais forte em duas pontas: entre 16 e 17 anos (12,66%, 33.750 vagas) e entre 50 e 64 anos (8,23% ou 263.178 contratações). Em números absolutos, no entanto, o profissional entre 40 e 49 anos foi o mais beneficiado, com 411.925 postos.

¿ O que aconteceu é que quando a economia fica rateando, as empresas não formam profissionais. Quando tem um pico de crescimento, as indústrias correm para contratar os empregados mais experientes ¿ disse o ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

Para Marinho, a expansão do emprego entre os jovens deveu-se à combinação das ações do governo com o trabalho de entidades como o Sesi. Os números da Rais confirmam o desempenho positivo do mercado de trabalho em 2004. Em 2003, o mercado formal de trabalho havia aberto 861.014 vagas, número que cresceu 6,3% no ano passado. No biênio, o governo contabiliza a geração de 2,724 milhões de empregos, com base em informações de 2,6 milhões de empresas.

¿ Os números simbolizam que o Brasil, finalmente, interrompeu o processo de paralisia da economia não só do ponto de vista do emprego, mas também do salário ¿ comemorou Marinho.

Houve uma pequena elevação no salário real médio dos trabalhadores, 1,23%, o que fez com que a remuneração subisse para R$1.058,63 no ano passado. Chamou atenção o fato de as mulheres terem obtido expansão de 2,02% do rendimento real, contra 0,83% dos homens.

Grandes empresas criaram maior número de vagas

Ao contrário da versão corrente de que as micro e pequenas empresas são as campeãs de contratações de mão-de-obra, em 2004, segundo a Rais, foram as grandes empresas as responsáveis pela maior parte dos novos empregos formais. Pelo levantamento, as firmas com mais de cem empregados contrataram 1.016.318 trabalhadores, contra 846.331 nas firmas até 99 funcionários. A Rais mostrou também que foram os trabalhadores de grandes corporações quem mais ganharam. Nas firmas com mais de mil empregados, a remuneração média subiu 2,47% em 2004, para R$1.483,01.