Título: Votação é marcada por denúncia de distribuição antecipada de cédulas
Autor: Evandro Éboli e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 16/12/2005, O País, p. 4

Defensores de Queiroz invadiram cabine e apanharam votos marcados no 'Não'

BRASÍLIA. Não bastasse o acordo para salvar o mandato do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), o processo de votação no plenário, anteontem à noite, virou um vale-tudo eleitoral. Alguns defensores de Queiroz chegaram a invadir a cabine onde ficavam as cédulas eleitorais para apanhá-las e distribuí-las aos parlamentares que estavam na fila para votar. Essas cédulas já estavam com o voto assinalado no "Não", contrário ao pedido de cassação.

O deputado Mauro Passos (PT-SC) foi abordado por seu colega Osvaldo Biolchi (PMDB-RS) momentos antes de votar. Biolchi lhe entregou a cédula com o voto contrário à perda do mandato de Queiroz já assinalado. Indignado, Passos mostrou a cédula a vários parlamentares, que testemunharam a atitude de Biolchi.

- Foi uma coisa ostensiva, feita sem qualquer pudor. Ele e outros que também fizeram isso não tomaram o cuidado nem de disfarçar. A cabine foi devassada. Nem em eleição de grêmio estudantil eu vi isso ocorrer - afirmou Mauro Passos.

Petista entra com representação

Por causa do comportamento do parlamentar gaúcho, o deputado petista entrou ontem com uma representação contra Biolchi na Corregedoria Geral da Câmara. Ele quer a cassação do mandato do colega por quebra de decoro parlamentar.

O deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), confirmou que esses fatos ocorreram e que viu várias cédulas assinaladas "Não" circulando nas mãos de deputados na fila de votação.

- Tinha um aglomerado (de deputados) distribuindo e pegando essas cédulas. Mais do que boca-de-urna, o que ocorreu ali foi uma violação de cabine e de cédula. Uma explícita quebra de decoro - disse Biscaia.

Passos afirmou que o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), também testemunhou o que ocorreu. Disse ter avisado a Biolchi que representaria contra ele na Corregedoria.

Biolchi negou que tenha feito boca-de-urna e disse que apenas pegou duas cédulas de votação na cabine. Segundo ele, uma teria caído no chão.

- Eu nunca peguei mais de uma cédula antes. Mas não é proibido pegar mais de uma. Eu peguei duas, pus uma no bolso e a outra segurei na mão. Mas estava um empurra-empurra e a que estava na minha mão caiu, não consegui pegar. Ainda bem que peguei duas - afirmou o parlamentar gaúcho.

O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), disse de manhã que não tinha conhecimento das irregularidades. Mais tarde, disse que, se houver alguma suspeita, ela será devidamente apurada.

Legenda da foto: O DEPUTADO Mauro Passos com uma cédula na mão: "Foi uma coisa ostensiva, feita sem nenhum pudor"