Título: CORREIOS SOB SUSPEITA DE PROPINA E SONEGAÇÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 16/12/2005, O País, p. 8

Deputado divulga gravação de conversa em que funcionário da empresa trata de planilha

BRASÍLIA. O sub-relator de contratos da CPI dos Correios, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), divulgou ontem mais uma prova que, na sua opinião, comprovaria novos pagamentos de propina a representantes dos Correios e uma possível sonegação fiscal praticada pelas empresas que atendem à Rede Postal Noturna (RPN) entre 2000 e 2002. Para confrontar o depoimento que o dono da Beta, Ioannis Amerssons, estava prestando, Cardozo decidiu divulgar a gravação de conversa entre o depoente, seu ex-sócio Antônio Augusto Morato e um funcionário da empresa, identificado como William.

Na fita de vídeo, que teria sido gravada por ordem de Morato, conforme confirmara na véspera seu ex-segurança, os três interlocutores aparecem discutindo uma planilha de contas da Beta e da Skymaster, que atuam na RPN. Em um dos trechos, eles falam sobre o pagamento de R$123 mil para a estatal, que na planilha seria computada como "Acerto Correios" e representaria 2,5% do faturamento líquido obtido com o contrato da RPN.

A referência feita à Varig, segundo Cardozo, confirmaria as suspeitas de que José Carlos Rocha Lima, ex-presidente da Varig Log, também teria recebido dinheiro da Beta para não questionar na Justiça o contrato da RPN. A Varig Log foi impedida de participar de um pregão realizado pelos Correios no dia 24 de dezembro de 2001 - data mencionada também na gravação - por uma cláusula restritiva por ser considerada uma concorrente da estatal. Embora a cláusula tenha sido derrubada pelo Tribunal de Contas da União, Rocha Lima não recorreu à Justiça para defender os interesses da empresa.

Em depoimento à CPI, Rocha Lima negou que tenha atuado em favor da Beta ou mesmo da Skymaster. Ele admitiu, contudo, que depois de deixar o cargo na Varig Log prestou consultoria à Skymaster e pelo serviço teria recebido R$50 mil. Na contabilidade da Skymaster, contudo, o pagamento feito a Rocha Lima é registrado como se tivesse sido feito para a empresa Forcefields, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas.

- Há fortes indícios de que o senhor Rocha Lima teria recebido dinheiro para não interferir no conluio entre a Beta e a Skymaster no contrato da Rede Postal Noturna - salientou Cardozo.

Mesmo depois de assistir à exibição da gravação, Ioannis rebateu as acusações de que o contrato teria sido superfaturado. Por intermédio de sua assessoria, Morato ressaltou que a gravação "não traduz irregularidade alguma". Já a ECT anunciou que só se manifestará a respeito depois que as investigações forem concluídas.

Legenda da foto: CARDOZO: denúncia de pagamento