Título: MEC ENFRENTA A MAIS LONGA GREVE EM 25
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 16/12/2005, O País, p. 14

Comando do movimento grevista recomenda o fim da paralisação, que terá de ser aprovada em assembléias

BRASÍLIA. O comando nacional de greve dos professores das universidades federais recomendou o fim da paralisação e a categoria deve voltar ao trabalho segunda-feira. A paralisação completa 109 dias hoje, o que faz dela a mais longa nas universidades federais desde 1980 - quando o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) passou a registrar a duração das greves. Até agora, a greve mais longa, com 108 dias, tinha sido registrada em 2001, no governo Fernando Henrique.

A decisão pelo fim da greve foi tomada anteontem à noite e levou em conta o esvaziamento do movimento. Em assembléias locais, os professores decidem hoje se acatam a recomendação, mas o vice-presidente do Andes, Paulo Rizzo, acredita que o fim da greve é certo.

Comando nacional divulga comunicado no site do Andes

"A maioria dos professores nas assembléias está indicando o fim da greve", diz comunicado aprovado pelo comando nacional, divulgado no site do Andes (www.andes.org.br).

Segundo o sindicato, 30 instituições ou seções sindicais permaneciam paralisadas ontem, mas 18 já haviam aprovado a saída ou suspensão do movimento. Entre as oito instituições ainda favoráveis à continuidade estavam a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Universidade de Brasília (UnB). As demais não haviam deliberado sobre o assunto.

Em 1º de dezembro havia chegado ao fim a greve de professores das escolas federais de educação básica - entre elas o Colégio Pedro II, no Rio - e a dos servidores técnico-administrativos das universidades federais. O impasse permaneceu por mais duas semanas, porém, na negociação com os professores das universidades.

O secretário-executivo-adjunto do Ministério da Educação (MEC), Ronaldo Teixeira, disse que caberá às universidades decidir o calendário de reposição das aulas. Ele rejeitou a idéia de que a atual greve seja a mais longa da categoria, pois não atingiu algumas das maiores instituições do país, como as federais do Rio (UFRJ), de Minas (UFMG) e do Rio Grande do Sul (URGS). Além disso, diz Teixeira, a adesão média dos professores nas instituições paralisadas girou em torno de 30% a 40%, na graduação.

- É um número discutível, mas se querem criar esta greve como a maior da história, é possível: está no poder da caneta e na força da voz. Mas a grandes universidades não pararam nunca - disse Teixeira.

Professore só estarão nas salas de aula em janeiro

Paulo Rizzo disse que o fim da greve não significa a volta às aulas já na segunda-feira. Na maioria das instituições, segundo ele, isso só ocorrerá em janeiro:

- O calendário vai para janeiro. Não se vai convocar os alunos para ir à universidade alguns dias e sair em seguida para o recesso de Natal e Ano Novo.

O vice-presidente do Andes disse que a greve garantiu avanços e que a categoria está entre as que mais benefícios conseguiram nas negociações salariais com o Executivo, ainda que o reajuste médio de 9,45% sobre o salário-base e outras vantagens só devam entrar em vigor em 2006.

- Em 2005 tivemos 0,1% de reajuste - reclamou Rizzo.

A primeira proposta do MEC aumentava em R$395 milhões o gasto adicional para o ano que vem com a folha de pessoal. O valor subiu para R$500 milhões e, por fim, chegou a R$650 milhões.

O MEC entende que houve intransigência da parte do Andes e considera que houve interesse político-partidário do sindicato em desgastar o governo Lula, uma vez que alguns de seus principais dirigentes são filiados ou simpatizantes do PSOL e do PSTU, partidos de oposição. O raciocínio leva em conta que o Fórum de Professores das Instituições Federais de Ensino Superior, entidade em relação à qual o MEC é mais simpático, e a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que reúne os reitores, faziam contraponto ao Andes e defenderam a volta às aulas no mês passado.

- Desde o início fizemos propostas. Mas o Andes ia para a mesa apenas com disposição formal para o diálogo. Aí fica difícil - disse Teixeira.

Rizzo rebateu:

- Se o MEC tivesse realmente preocupação com os efeitos da greve (sobre os estudantes), teria dado uma solução há mais tempo.

O que está em jogo

O QUE QUEREM OS PROFESSORES: Reajuste linear de 18% no salário-base; pagamento da Gratificação de Estímulo à Docência (GED) no mesmo valor a ativos e aposentados; e a entrada imediata em vigor da classe de professor associado, novo degrau na carreira acadêmica entre o atual professor adjunto 4 e o professor titular, topo da carreira.

O QUE O GOVERNO OFERECE: Reajuste médio de 9,45% no salário-base a partir de janeiro de 2006, com acréscimo na gratificação por titulação; redução de 35% para 18% da diferença do valor da GED pago a ativos e aposentados a partir de julho de 2006; e a criação da classe de professor associado a partir de maio de 2006, com reajuste de 5% no salário-base dos professores titulares.

INSTITUIÇÕES PARALISADAS: São 29 segundo o MEC ou 30 de acordo com o Sindicato dos Professores (Andes). A primeira instituição a entrar em greve foi a Universidade Federal do Acre, em 15 de agosto. Mas o Andes considera 30 de agosto a data inicial do movimento, pois nesse dia foi instalado o comando nacional de greve em Brasília, quando já havia a adesão dos professores de 12 instituições federais. O movimento chegou a parar as aulas de graduação em 39 instituições, segundo o Andes. Hoje a greve completa 109 dias e é a mais longa da categoria. O recorde anterior é de 2001, quando os docentes ficaram 108 dias parados.

ESTUDANTES PREJUDICADOS: Cerca de 200 mil, segundo o MEC, e 250 mil, de acordo com o Andes.

Legenda da foto: PASSEATA DE PAIS de alunos pedia o fim da greve no Colégio Pedro II, no Rio, que durou mais de 90 dias