Título: CARGA TRIBUTÁRIA RECORDE ATINGIRÁ 37,6% DO PIB
Autor: Luciana Rodrigues e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 16/12/2005, Economia, p. 40

Este ano, porém, câmbio valorizado levará país a 10º lugar entre as maiores economias. Já o investimento cai

RIO e SÃO PAULO. O freio no crescimento econômico no último trimestre - quando o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) recuou 1,2% - veio acompanhado de redução nas taxas de investimento e de poupança, informou ontem o IBGE. E deverá levar a um novo recorde na carga tributária, prevêem especialistas. Mas, mesmo com o ritmo fraco de crescimento - um dos quatro piores da América Latina - o PIB brasileiro deve subir duas posições no ranking das maiores economias do mundo este ano, segundo projeções da consultoria GRC Visão, graças à valorização do real frente ao dólar.

No último trimestre, o Brasil produziu R$ 497,46 bilhões em bens e serviços. De janeiro a setembro, o PIB somou R$1,415 trilhão. No acumulado do ano passado, o valor do PIB foi de R$1,766 trilhão, ou US$605 bilhões (à taxa de câmbio da época), o que deixava o país na 12ª posição entre as maiores economias do mundo. Este ano, como a cotação média do real está 16% acima da registrada em 2004, o Brasil deverá saltar duas posições, superando Austrália e México e integrando a lista dos dez maiores PIBs do mundo.

- Será apenas efeito do câmbio. O crescimento do PIB brasileiro, de 2,5%, será menor que o previsto para o México (3%) e quase igual ao da Austrália (2,2%) - explica o economista Thiago Davino, da GRC Visão.

Brasileiro paga impostos de R$1,39 milhão por minuto

O fraco desempenho do PIB brasileiro este ano deverá levar o país a um novo aumento na carga tributária. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) calcula que 37,61% de todas as riquezas produzidas este ano no Brasil serão usadas no pagamento de tributos federais, estaduais e municipais, contra 36,8% em 2004. Será um novo recorde histórico. A estimativa considera uma receita de R$730,8 bilhões com impostos e um PIB de R$1,943 trilhão no acumulado do ano.

- Se confirmados, esses números vão representar o pagamento de R$2,002 bilhões por dia em impostos ou, ainda, de R$1,39 milhão por minuto - afirma Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT.

De janeiro a setembro, a carga atingiu 38,25% do PIB, acima dos 36,83% apurados no mesmo período de 2004. Nos nove primeiros meses deste ano, pelos cálculos do IBPT, a carga tributária per capita passou de R$2.617 para R$2.947, num aumento real de 5,06%.

Nos números do PIB divulgados ontem, o IBGE constatou que a taxa de investimento - que mede o quanto foi destinado à compra de máquinas e equipamentos, além da construção civil, como proporção do PIB - caiu para 20,4% no terceiro trimestre de 2005, contra 20,9% em igual período de 2004.

Houve um forte ajuste de estoques na economia, porque a demanda cresceu abaixo do previsto pelos empresários. Com isso, eles reduziram investimentos.

Poupança cai com avanço do consumo das famílias

E a taxa de poupança (o que é economizado por famílias, empresas e governo, como fatia do PIB) caiu de 25,4% no terceiro trimestre de 2004 para 24,3%.

- O consumo das famílias cresceu mais do que o PIB e, por isso, a taxa de poupança caiu - explicou Maria Laura Muanis, técnica do IBGE.

INCLUI QUADRO: OS INDICADORES / RANKING MUNDIAL DO PIB / AS TAXAS DE INVESTIMENTO