Título: Lula critica denuncismo e compara imprensa brasileira à da Venezuela
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Fonte: O Globo, 17/12/2005, O País, p. 4

Presidente diz que é tratado com hostilidade, assim como Chávez em seu país

RECIFE. Uma semana depois de acusar a oposição a seu governo de agir como a Fedecámaras (Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela), que já deu um golpe e conseguiu tirar o presidente Hugo Chávez do poder por 48 horas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem atacou a imprensa brasileira, comparando-a à do país vizinho. Segundo ele, a imprensa do Brasil está se comportando com ele da mesma forma como a da Venezuela, que, em sua maioria, é hostil ao governo Chávez.

Dirigindo-se ao colega venezuelano, Lula relatou suas primeiras reações ao assistir à cobertura da TV venezuelana em um quarto de hotel:

¿ A propaganda contra Chávez era de tal magnitude, assim como as ofensas pessoais, que jamais imaginei que, num país democrático, a imprensa pudesse agir da forma que agiu contra o presidente Chávez. Agora está ocorrendo no Brasil algo semelhante. As pessoas não se preocupam em saber se são verdadeiras ou não as denúncias. Primeiro se publica, sem nenhuma responsabilidade em apurar.

ABI e Fenaj repudiam ataque

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, rebateu as críticas de Lula:

¿ No Brasil, a imprensa não tem engajamento com posição em relação ao impeachment do presidente Lula. Ao contrário, a análise dos editoriais dos principais veículos de imprensa revela que são contra o impeachment.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) disse em nota que a imprensa cumpre seu papel e que Lula não é o primeiro e nem será o último presidente a se queixar de denúncias.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), discordou das críticas de Lula:

¿ A imprensa brasileira é responsável e faz excelente trabalho de investigação. A imprensa presta relevante serviço à democracia e ao país ao denunciar os desmandos do governo, essa corrupção endêmica, epidêmica e sistêmica que se estende das portas do Palácio do Planalto ao partido do presidente.

Antes de discursar, ontem, na cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Refinaria Abreu de Lima, a 45 quilômetros de Recife, Lula recebeu o apoio de Chávez à reeleição.

¿ Se eu fosse brasileiro votaria em Lula, assim como tenho certeza que ele votaria em mim se fosse venezuelano ¿ disse Chávez.

Num discurso em defesa do desenvolvimento da América do Sul e com ataques contundentes ao governo americano, Chávez defendeu a permanência de Lula à frente do governo brasileiro como relevante para a integração dos países do continente sul-americano.

Após a cerimônia, Chávez foi para Abreu de Lima, cidade a cem quilômetros de Recife, onde foi homenageado pela Câmara Municipal. (Heliana Frazão)