Título: O fator Quércia
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 19/12/2005, PANORAMA POLÍTICO, p. 2

A manutenção da verticalização continua sendo o mais forte obstáculo ao lançamento de uma candidatura própria à Presidência da República pelo PMDB. Mas a última pesquisa Datafolha sobre a sucessão paulista, na qual o ex-governador Orestes Quércia aparece como líder, embalou o sono dos peemedebistas que trabalham pelo lançamento de um candidato do partido.

A liderança de Quércia tem mais peso na decisão que o PMDB vier a tomar do que os 20 pontos do ex-governador Anthony Garotinho no Ibope. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), acredita que o recado do eleitorado paulista foi muito claro: a população está à espera de um alternativa viável que a liberte da polarização beligerante entre o PT e o PSDB.

¿ Nós sempre sustentamos a necessidade de oferecer outra alternativa aos eleitores. A pesquisa do Datafolha, em São Paulo, mostra que há espaço para uma terceira via ¿ diz Temer.

A fragilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afasta o partido de uma aliança com o PT. Mas o crescimento eleitoral de José Serra não levará o PMDB para seu palanque. Tudo indica que o PMDB, e seu tempo de televisão, não serão de ninguém.

¿ O PMDB não vai com Lula nem com o PSDB. Só conversamos sobre o segundo turno se o PMDB estiver de fora ¿ garante.

Temer não acredita no adiamento das prévias e, por isso, marcou reunião da executiva para tratar de sua realização em 24 de janeiro. Nove dias antes o governador Germano Rigotto (RS) deverá anunciar que é candidato às prévias e que não disputará a reeleição no Rio Grande do Sul. Garotinho também não acredita no adiamento das prévias e que o partido faça a opção pela não-candidatura.

¿ Como o PMDB vai tirar da disputa um candidato que tem 20% nas pesquisas de intenção de voto? ¿ pergunta Garotinho.

No PMDB nada é muito simples. Na medida em que é candidato a governador, seria útil para Quércia a existência de uma candidatura do partido a presidente. Por isso, ele tem conversado com líderes do partido de todo o Brasil sobre a necessidade de um candidato que possa unir o partido. Quércia reconhece o potencial eleitoral de Garotinho, mas coloca sempre em dúvida sua capacidade de agregar e de governar com o partido caso seja eleito. E sempre fala de sua própria experiência em 1994, quando o PMDB estava dividido e o reflexo eleitoral foi o fracasso de sua candidatura presidencial.