Título: PACOTE DE BENEFÍCIOS CUSTARÁ R$10 BILHÕES
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 19/12/2005, O PAÍS, p. 3

De olho na eleição, Lula estuda mínimo de até R$350 e reajuste para servidor

BRASÍLIA. O governo aposta num pacote de medidas econômicas para recuperar a popularidade perdida com a crise política e chegar à eleição de 2006 reconciliado com o eleitor. Com receita extra de pelo menos R$10 bilhões no Orçamento do ano que vem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer elevar o salário-mínimo para até R$350, cobrir as perdas do funcionalismo público com a inflação e reajustar a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física em pelo menos 7%. A conta desses benefícios poderá passar dos R$10 bilhões. A oposição reconhece a eficácia eleitoral dessas decisões, mas acredita que, a essa altura, serão inúteis para dar ao presidente Lula o segundo mandato. ¿ O presidente pode cometer meia dúzia de atos demagógicos e ir ao segundo turno. São instrumentos eficientes em eleições. Dão voto, mas não vai adiantar ¿ sustenta o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). A última pesquisa do Ibope de avaliação do governo mostra que de setembro a dezembro Lula perdeu expressivo apoio na faixa do eleitorado com renda de até um salário-mínimo. A queda foi de 17 pontos percentuais. Essa é uma das razões da disposição do governo em comprar briga com a equipe econômica para gastar entre R$3 bilhões e R$4,6 bilhões em 2006 e pagar um mínimo entre R$340 e R$350. O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, rejeita o rótulo de eleitoreiro para o novo mínimo. Segundo ele, em 2005 também houve aumento real e a continuidade dessa política estava nos planos de 2006. ¿ O aumento estava previsto. Não estamos fazendo nenhuma novidade e estamos trabalhando dentro da margem. Se a proposta do governo fosse de R$400, até se poderia criticar. Não é o caso ¿ argumenta o ministro.

Para cumprir promessa, salário-mínimo deveria chegar a R$568,42 em maio

Estudo feito pela assessoria técnica do PFL mostra que se o governo Lula cumprisse a promessa de campanha de dobrar o valor real do mínimo, o piso salarial deveria alcançar em maio de 2006 R$568,42. Isso significaria um gasto extra de R$40,3 bilhões, o que torna a proposta impossível, reconhece o partido. ¿ O eleitor não é bobo e distingue um governo competente de um despreparado, que promete um mínimo maior, mais longe da promessa de campanha. O reajuste do funcionalismo também está distante dessas promessas, e a correção da tabela do Imposto de Renda não cobre a inflação. É a correção do que não foi feito nesses anos ¿ critica o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Para o líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS), o governo e o partido devem ter a capacidade de entender o recado que setores da sociedade passam nas pesquisas. Ele afirma que há condições para promover os reajustes previstos no Orçamento, que significam o cumprimento do programa do presidente Lula. ¿ São camadas da população que têm críticas a nosso governo. Mas vendo que estamos revertendo curvas, o povo pode escolher entre voltar atrás ou aperfeiçoar o programa de mudanças que estamos fazendo. O servidor público pode achar pouco ter um reajuste que cubra os quatro anos de inflação, mas verá que é mais bem tratado agora do que no governo Fernando Henrique ¿ pondera o petista. Fontana lembra que o governo tem dado atenção à classe média, não apenas com a perspectiva de pagar menos imposto. Cita como exemplo a abertura de novas vagas em universidades. O líder do PT aposta num crescimento da economia de até 5% e, claro, na resposta das urnas: ¿ Teremos um último ano certamente de maior ofensiva política e realizações concretas. A nocauteada inicial da crise será revidada.

Virgílio discorda: ¿ Um candidato com a Presidência na mão, com a vantagem da reeleição, ainda precisa recorrer ao voto segmentado? Para o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), o pacote de benefícios pode se voltar contra o próximo governante, seja quem for: ¿ A partir do momento em que o governo usa esse caminho, dá sinais de desespero e deixa cascas de banana para o sucessor, porque reduz a capacidade de investimento.