Título: Verticalização deve reduzir número de candidatos
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 18/12/2005, O País, p. 10

Com a manutenção da regra eleitoral, presidenciáveis do PMDB e do bloco PDT-PPS têm planos ameaçados

BRASÍLIA. A manutenção da regra eleitoral da verticalização, que PFL, PMDB e pequenos partidos querem derrubar no Congresso, deverá reduzir o número de candidatos à Presidência da República e alimentar a proliferação de alianças informais ¿ as chamadas alianças brancas ¿ entre partidos das mais distintas ideologias, desrespeitando a coligação nacional dessas legendas.

Com a verticalização, os presidenciáveis do PMDB e do bloco PDT-PPS estão com seus projetos ameaçados, pois eles criam problemas para candidaturas e alianças que seus partidos negociam nos estados. Com isso, estará fortalecida a polarização eleitoral entre as candidaturas do PT e do PSDB.

Decididos a não lançar candidatos ou fazer coligação na eleição presidencial, PTB, PP e PL trocam de parceiros nos estados de acordo com a conveniência local. Os acordos já estão sendo costurados e, independentemente da continuidade ou não da verticalização, serão, em grande parte, mantidos, ainda que informalmente, nas alianças brancas.

PMDB: candidatura própria ficou mais difícil

O comando do PMDB, apesar de manter a prévia de 5 de março para a escolha do candidato do partido à Presidência, reconhece que ficou mais difícil lançar candidatura própria. As direções regionais do partido, que disputa com chances de vitória em 16 estados, já começaram a trabalhar contra a candidatura própria. Os dois pré-candidatos, Anthony Garotinho e Germano Rigotto, terão que se desdobrar para que um deles concorra.

¿ O mais difícil para quem quiser ser candidato pelo PMDB não é a eleição presidencial, mas garantir a realização das prévias, vencer a disputa interna e viabilizar candidatura própria na convenção ¿ diz o governador Rigotto (RS).

As alianças dos partidos nos estados não obedecem a qualquer coerência nacional, mas exclusivamente aos alinhamentos políticos locais. O PTB no Rio Grande do Sul está próximo do PMDB, mas em São Paulo e em Minas se aproxima mais do PFL e do PSDB. O PL é capaz de estar com a esquerda (PT, PCdoB, PSB e PDT) no Amazonas; de ser uma sigla a serviço do PFL na Bahia; e de se alinhar com o PSDB na Paraíba.

O PP pode se aliar com o PT em Pernambuco e no Espírito Santos, mas estará com o PSDB em Minas e na Paraíba, o PFL na Bahia e o PMDB no Amazonas. O festival de parcerias patrocinado pelo PP, PL e PTB, quase sempre incoerentes do ponto de vista ideológico, tem um objetivo: eles precisam obter em 2006 5% dos votos nacionais para a Câmara, o que garantirá às legendas recursos do Fundo Partidário e tempo de propaganda em horário gratuito no rádio e na televisão.

Estes três partidos já tomaram a decisão: mantida a verticalização, eles não lançam nem apóiam oficialmente candidatos a Presidência da República em nome da flexibilidade que isso lhes garante nos estados. A emenda que propõe o fim da verticalização está na pauta da Câmara, mas não há acordo para sua aprovação.

¿ O PTB tomou uma decisão. Não terá candidato a presidente nem fará coligação. Mas a maioria do partido vai apoiar a reeleição de Lula informalmente ¿ afirma o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN).

Freire e Lupi falam de candidatura conjunta

Os presidentes do PPS, deputado Roberto Freire (PE), e do PDT, Carlos Lupi, vivem fazendo reuniões para badalar uma candidatura conjunta à Presidência da República. Mas cada vez que isso ocorre, seus candidatos nos estados vêem seus projetos ameaçados. No Paraná, o senador Osmar Dias (PDT) vive esse drama, pois seus aliados são PSDB, PFL e PP, além do PSB.

¿ Não dá para o partido lançar candidato só para marcar posição e estragar todas as alianças que estamos costurando no estado ¿ critica Osmar.

Na mesma situação estão os candidatos a governador do PMDB. Em sete estados, os candidatos do partido consideram fundamentais alianças com o PSDB, mas o arranjo ficará ameaçado caso o partido lance candidato ao Planalto.

No PMDB, considerado o fiel da balança nas eleições presidenciais, há proximidade com tucanos e petistas. Em seis estados (PR, PB, PI, PA, RR e AP), as maiores possibilidades de aliança são com o PT.