Título: Lula e o PT
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 20/12/2005, O GLOBO, p. 2

O presidente Lula tem amanhã uma reunião com a nova comissão executiva do PT que pode ter desdobramentos sobre seu dilema central, ser ou não ser candidato à reeleição. Algumas franquezas devem ser usadas nesta conversa, de parte a parte. Pensando na sobrevivência, o PT quer Lula candidato, para perder ou para ganhar. Mas, como em 2002, ele tem exigências a fazer.

Ricardo Berzoini, presidente do partido, diz que o principal objetivo da reunião, prevista desde a eleição da nova direção em outubro, é este mesmo: discutir com o presidente o cenário eleitoral de 2006 e dizer-lhe que sua candidatura é prioridade número um do partido, como expresso na resolução aprovada na semana passada.

- Queremos a reeleição do presidente Lula e não uma outra candidatura. Qualquer outro nome disputaria em condições bem mais difíceis, não dispondo do cacife e do carisma dele nem do capital representado pela lista de realizações de seu governo. Pois, ao contrário do que diz a oposição, o governo tem muito o que mostrar, embora neste momento só se ouça o ruído das denúncias - diz Berzoini.

Um dos apelos de Lula na reunião ministerial de ontem foi exatamente para que todos os ministros tratem de defender o governo e mostrar suas realizações em todas as áreas.

Voltando à recandidatura, o partido não deu ou fingiu que não deu muita importância às declarações que Lula fez na quinta-feira passada, externando de público a possibilidade de não ser candidato. A pressão do partido pela candidatura será grande, admite-se no Planalto, onde, por isso mesmo, as chances de Lula não concorrer são estimadas em torno de 30%.

Na conversa com os dirigentes petistas, Lula repetirá que não faz questão de disputar a reeleição, muito menos se o risco de derrota for grande. Reconhecerá, entretanto, a importância da candidatura para o soerguimento do partido depois da tsunami que lhe confiscou a aura ética.

Lula tem repetido que não será candidato se precisar vender a alma para fazer aliaças. Mas dirá que acha essencial preservar a coligação com os aliados históricos, PSB e PCdoB. Mas a ser mantida a regra da verticalização, posição que o PT apóia oficialmente, corre o risco de ter o apoio informal destes partidos mas sem o fechamento de coligações oficiais, o que lhe reduziria o tempo de televisão. No dia 21 de janeiro, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, promete pôr a emenda que derruba a regra em votação. Dificilmente, entretanto, ela seria aprovada sem uma mudança de posição do PT. Este pode ser um dos apelos que Lula fará.

Outro assunto da conversa pode ser as recentes críticas do partido à política de juros e à meta de superávit fiscal. Oficialmente Lula as recebeu com naturalidade. Há quem diga que gostou. Mas se o PT aprofundar as críticas, como candidato ele ficará entre a defesa da política que fez e o revisionismo petista. Ou, o que é pior, no muro da ambiguidade.