Título: LULA NO CARDÁPIO
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 20/12/2005, O País, p. 4

Geraldo Alckmin agrada aos empresários com seu perfil de gerente e estilo de executivo. José Serra, embora considerado muito à esquerda pelo capital financeiro, tem apoios importantes no setor produtivo. Boa parte do empresariado, porém, ainda não debandou rumo a uma candidatura de oposição. Por quê? Porque, apesar dos pesares, ainda aposta na economia de Lula.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, por exemplo, identifica sinais de retomada no crescimento da economia nessa reta final de 2005 e acha que isso já terá impacto no primeiro trimestre do ano eleitoral. Apesar da queda de 1,2% no terceiro trimestre e das estimativas de que este ano o crescimento da economia vai ficar empacado em torno dos 2,5%, a aposta do setor é de que, no ano que vem, o PIB vai bater os 4%.

- A indústria vai ter um nível de crescimento bem melhor, e a economia como um todo vai crescer. Em março, já será perceptível essa retomada. As previsões são de que a economia mundial vai continuar bem, e no Brasil as taxas de juros vão cair. Alguns setores, como a construção civil, devem começar a responder melhor. As exportações vão muito bem. Os gastos da própria eleição vão puxar a economia. O que foi perdido lá atrás não se recupera mais, mas os números voltam a indicar crescimento a partir de agora - afirma Monteiro, que é deputado pelo PTB de Pernambuco.

É por aí que se vê que os números da última pesquisa do Ibope, patrocinada e apresentada pela CNI, não chegam a impressionar tanto assim. É certo que o crescimento das opções de oposição tucana, Serra e Alckmin, entusiasma alguns setores das elites. Mas poucos consideram que Lula está morto para a eleição de 2006. Mantida a política econômica e, sobretudo, se resultados positivos voltarem mesmo a aparecer antes da eleição de outubro, o pragmatismo de muitos indicará que não há razão para mudar.

- Quando o empresário olha para o próprio negócio, vê que foi razoavelmente e conclui que foi feliz nos últimos anos, pensa duas vezes antes de querer mudanças - afirma o presidente da CNI.

Monteiro lembra que no governo do torneiro mecânico do PT as entidades de representação empresarial tiveram ótima interlocução com o Planalto. Além de criar conselhos e fóruns de discussão com espaço para participação do setor produtivo, Lula esteve sete vezes na CNI e se reuniu duas vezes com as federações da indústria.

Companheiro de partido de Roberto Jefferson, responsável pela crise que golpeou o governo Lula e fez o quadro eleitoral virar de ponta-cabeça, Armando Monteiro acha que as investigações da CPI não comprovaram maiores ligações entre o PT e desvios de dinheiro público.

- Que houve corrupção houve, como há em qualquer governo, em diversos órgãos. Mas não há nada provando que isso esteja ligado a um esquema organizado de financiamento do PT, assim como não há provas de que José Dirceu comandou algum esquema de pagamento - defende.

É com um olho no gato e outro na frigideira que o empresariado ainda está em compasso de espera para 2006. O presidente da CNI não descarta as opções tucanas e até manifesta certa tranqüilidade com o fato de os três principais nomes da corrida sucessória neste momento se situarem mais ou menos no mesmo espectro e terem um nível mínimo de concordância em relação a muitos temas, inclusive relacionados à economia. Nesse sentido, considera necessário que Lula seja candidato à reeleição:

- Para perder ou para ganhar, é importante ter Lula no cardápio eleitoral. Se ele não concorrer, embaralha-se tudo, abre-se um vazio, aparecem outros candidatos e há o risco de alguém de perfil populista conquistar o eleitorado mais inorgânico com discursos demagógicos.

E o risco de, nesse clima de radicalização política, o populismo acabar vindo do próprio Lula, que anda por aí fazendo campanha com Hugo Chávez a tiracolo e apontando semelhanças entre a imprensa e setores das elites da Venezuela e do Brasil?

- Se ele insistir nessa linha, vai assustar o empresariado - alerta Monteiro.

Claro está que Lula, desgastado com a crise e abandonado por parte da classe média que migrou para sua candidatura em 2002, ainda não perdeu completamente as elites. O jogo mal começou e muita água há de rolar. Mas o nome da ponte que ainda une, mesmo que por um fio, o governo do PT ao capital é economia. E tudo vai depender de três letrinhas: PIB.