Título: TERRA À VISTA
Autor:
Fonte: O Globo, 20/12/2005, Opinião, p. 6

A resistência dos países desenvolvidos em abrir seus mercados para produtos agrícolas é quase incompreensível do ponto de vista econômico. Tal protecionismo pune fortemente os consumidores, que subsidiam a produção local sem que ela contribua de forma significativa para a geração de renda e emprego.

Já no caso dos países pobres ou em desenvolvimento, o agronegócio vem crescendo de importância como proporção do produto interno bruto, e em muitas nações representa a única fonte capaz de criar riquezas.

No entanto, a agricultura é muito bem representada em senados ou câmaras altas dos países ricos, e o protecionismo acaba assim se transformando em bandeira política.

Mas é uma situação que não vai se eternizar. A formação da Organização Mundial do Comércio significou um grande avanço em prol da liberalização dos mercados, e a cada rodada de negociação mais um passo à frente tem sido dado. Havia o risco de que isso não viesse acontecer na reunião ministerial de países que participam da OMC, em Hong Kong. Porém, depois de exaustivas conversações, chegou-se a um entendimento quase no apagar das luzes.

De fato, não se poderia esperar mudanças radicais e rápidas em um ambiente tão conservador como o da agricultura dos países ricos. Pelo que ficou acertado em Hong Kong, essa mudança terá de ocorrer até 2013, possivelmente antecipando-se parte da abertura e eliminação de subsídios para 2010. Tratando-se de um tema com essa dimensão, não é um horizonte longo.