Título: HORA DA VERDADE
Autor:
Fonte: O Globo, 20/12/2005, Opinião, p. 6

Se as projeções de boca-de-urna estiverem certas, a vitória de Evo Morales com 51% dos votos nas eleições presidenciais de anteontem pode ter sido o melhor resultado para a atribulada democracia boliviana, que por vezes lembra um barco rumando às cegas ao encontro de um iceberg.

Pelas regras eleitorais da Bolívia, onde não existe segundo turno, quando nenhum candidato obtém maioria absoluta a decisão vai para o Congresso, o que é sempre uma incógnita e um risco. Com seu surpreendente desempenho eleitoral, Evo terá feito história como o primeiro índio a chegar à presidência em 180 anos de vida republicana.

Mas incógnita, mesmo, é o que fará esse aimara de 46 anos, líder dos plantadores de coca, quando assumir em 22 de janeiro. Se cumprir à risca promessas como a de nacionalizar refinarias administradas pela Petrobras, poderá conduzir o país que o elegeu a atritos insolúveis com vizinhos e investidores, entre eles o Brasil.

Evo conta com a amizade de outros líderes regionais, precioso capital político. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, e Hugo Chávez, da Venezuela, não escondem o entusiasmo.

Aliás, o novo presidente poderá tomar um deles por modelo. Faria bem se imitasse Lula, cuja trajetória é parecida e que não teve dificuldade para se adaptar às realidades da presidência - a não ser o fogo amigo. Mas se preferir o exemplo de Chávez, e insistir na política do antagonismo, não é preciso esforço de imaginação para adivinhar o que será da Bolívia sob sua batuta.