Título: Presidente cogita vir ao Brasil antes da posse
Autor: Ramona Ordoñez/Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 20/12/2005, O Mundo, p. 29

Evo Morales garante que manterá exportações de gás para o país, considerado um parceiro estratégico

LA PAZ. O presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, está analisando a possibilidade de viajar ao Brasil antes de sua posse, marcada para 22 de janeiro. Colaboradores do líder cocaleiro disseram ao GLOBO que o Brasil será um de seus principais sócios estratégicos na região. Outra possibilidade avaliada pela equipe de Morales é de que o vice-presidente eleito, Álvaro Garcia Linera - que esteve no Brasil recentemente - seja enviado para conversar com membros do governo Lula e autoridades da Petrobras, empresa que nos últimos anos investiu cerca de US$1,5 bilhão na Bolívia.

- O primeiro encontro entre Lula e Evo foi importante, mas ainda temos de conversar sobre muitos assuntos que ficaram pendentes. Temos de explicar muitas coisas ao Brasil - comentou a fonte, que pediu para não ser identificada.

Duas refinarias que valeriam US$150 milhões

O novo presidente assegurou ontem a uma rádio de Buenos Aires que seu governo aumentará as exportações de gás para Argentina e Brasil.

- Brasil e Argentina serão nossos sócios estratégicos. Com nossa presença, será fortalecido um movimento político na América Latina que terminará com a arrogância do imperialismo americano - afirmou.

Um dos principais assuntos da agenda para o Brasil é o futuro de duas refinarias que a Petrobras adquiriu em 1999, em Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra, e que o futuro governo pretende comprar de volta. A equipe de Morales as considera fundamentais para resolver problemas internos de abastecimento de gás. Estima-se que valham cerca de US$150 milhões.

- O assunto já foi abordado no encontro que Lula e Evo tiveram antes das eleições, mas ainda temos muitos detalhes a discutir. Também queremos explicar como será nossa política de nacionalização dos hidrocarbonetos - enfatizou a fonte.

As duas refinarias pertenciam à estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos, empresa praticamente destruída nos últimos governos e que Morales pretende reconstruir, transformando-a numa espécie de Petrobras boliviana. Quando foram vendidas, a estatal boliviana estava com sérios problemas financeiros e o governo pretendia captar recursos para financiar seu funcionamento. Uma das alternativas seria um acordo de parceria estratégica entre as estatais brasileira e boliviana.

Projetos de investimentos continuam suspensos

A Petrobras mantém uma posição cautelosa: vai esperar Morales tomar posse para conversar com ele sobre as atividades da estatal brasileira na Bolívia. Enquanto isso, continuam suspensos grandes projetos de investimentos, como a construção de um pólo gás-químico na fronteira entre os dois países e a ampliação da produção de gás natural na Bolívia.

- Saudamos o processo democrático de eleições na Bolívia. A Petrobras sempre manteve excelentes relações com a Bolívia e esperamos continuar - disse José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, informando que tão logo tome posse o novo presidente, ele lhe fará uma visita.

O diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, comentou que a nacionalização das reservas de hidrocarbonetos (petróleo e gás natural) na Bolívia, como está prometendo o futuro presidente, aconteceu com a recente aprovação da Lei de Hidrocarbonetos.

A Petrobras é a maior empresa na Bolívia, onde atua em todos os setores petrolíferos, como exploração, produção, refino e distribuição de combustíveis. Já investiu no país cerca de US$1,5 bilhão, onde representa quase 20% do Produto Interno Bruto e tem cerca de 10% das reservas comprovadas de gás.

COLABOROU Ramona Ordoñez

Legenda da foto: PARTIDÁRIOS de Morales comemoram em La Paz a vitória do líder cocaleiro com música e bandeiras