Título: 'Em 2006, precisamos colher aquilo que nós plantamos', diz presidente
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 21/12/2005, O País, p. 4

Lula afirma que para quem está no governo quatro anos de mandato é pouco

MACAPÁ. Num dia em que visitou obras do aeroporto de Macapá, inaugurou um hospital da Rede Sarah, liberou verbas para obras num estádio de futebol e ainda assinou convênio para a construção de um centro de pesca no Amapá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que pretende colher em 2006 tudo o que seu governo plantou:

- O aeroporto tem que ser inaugurado ainda em 2006 porque nós precisamos colher aquilo que nós plantamos. E não vamos deixar para ninguém colher a semente que nós botamos embaixo da terra.

O presidente disse a uma platéia de 500 pessoas que, para quem está no governo, quatro anos de mandato é muito pouco. Lula, que não assumiu oficialmente sua candidatura à reeleição, pediu que o processo eleitoral não atrapalhe o desenvolvimento.

- Acontece que quatro anos para quem está governando é muito pouco, mas para quem está na oposição quatro anos é uma eternidade. Uma eleição, se não ajudar, não pode atrapalhar as obras que estão em andamento no estado. Não pode, porque senão será o pior dos mundos, porque as pessoas vão começar a se dar conta de que aquilo que parecia muito bom pode não ser bom se as pessoas não tiverem juízo para fazer uma disputa eleitoral e não uma guerra contra o desenvolvimento do estado, da nação ou de uma cidade - discursou.

"Agora, viramos donos do nosso nariz", diz Lula

O presidente aproveitou o discurso para responder às críticas à política econômica - principalmente as de dentro do PT. Lula afirmou que, sem fazer bravatas, o país se desvinculou do Fundo Monetário Internacional, e proclamou:

- Acabou o tempo da colonização deste país. Nós, agora, viramos donos do nosso nariz. Temos dinheiro, temos exportação, temos produção e agora vamos nos auto-administrar sem precisar imposição.

As declarações se referem ao fato de o governo ter decidido antecipar para o fim deste mês o pagamento de US$15,5 bilhões em empréstimos do FMI, que venceriam em 2006 e em 2007. Com a medida, o Brasil encerra sete anos de relação direta com o organismo e fica sem dívidas na instituição.

- Sem nenhuma briga, sem nenhum grito, e eu, que passei 20 anos da minha vida gritando "fora FMI", no ano passado, não fizemos acordo com o FMI. Vocês sabem que o Brasil tinha quebrado em 1998, o Brasil tinha quebrado em 2001, e vocês sabem que o Brasil teve que pegar US$30 bilhões emprestados do FMI para ficar como garantia - afirmou Lula.

Lula elogiou as eleições, mas se queixou do fato de os governantes já assumirem com o orçamento aprovado pela gestão anterior, passarem por eleições municipais no meio do mandato e terem nova disputa no fim dos quatro anos.

Numa demonstração de que está disposto a mostrar realizações, Lula lembrou, por exemplo, que, em 2002, o governo federal investia R$53 milhões em saúde, por meio de convênios, na Amazônia. No ano passado, segundo o presidente, esse número chegou a R$543 milhões.

- Há pessoas que não gostam que eu fale isso, mas vou falar - disse o presidente, antes de citar os dados, na inauguração do centro de reabilitação infantil da Rede Sarah.

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