Título: 'Há lugar no mundo que no fim do ano não gaste?'
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 21/12/2005, O País, p. 5

Lula defende gastos e diz que estabilidade já é uma conquista. 'Agora, é crescer', acrescentou, em tom de campanha

MACAPÁ.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu abertamente o tom de campanha ontem, em Macapá, afirmando que chegou a hora de crescer, de gastar e de colher os frutos do que foi plantado por seu governo. "Alguém é doido de guardar dinheiro?", perguntou, sobre a liberação de recursos do Orçamento neste fim de ano. Em conversa informal com um pequeno grupo de jornalistas, o presidente disse que foi este o recado que passou aos ministros na reunião de segunda-feira, e deu a senha do que deve ser sua bandeira na campanha do ano que vem: "A estabilidade, para nós, já é uma conquista. Agora, é crescer". Bem-humorado, Lula, que participou de duas inaugurações na capital do Amapá, não dá como certa sua candidatura e diz até que qualquer um de seus ministros poderia concorrer a sua sucessão. Os principais trechos da entrevista:

RECADO PARA OS MINISTROS: "O que tinha de ser plantado já foi. Agora, no próximo ano, vamos colher o que plantamos".

PROBLEMAS NA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA: "Não tem problema. Você acha que existe algum lugar no mundo que no fim do ano não gaste o seu orçamento? Alguém é doido de guardar dinheiro? Quando vejo as manchetes: 'Governo não gasta isso ou não gasta aquilo'... Isso depende do momento que se entra no Siafi, porque você tem o momento de empenhar. Depois tem o tempo em que você paga".

GUERRA NA ELEIÇÃO: "Todas as vezes em que perdi eleição, eu me acomodei como derrotado. E foram três vezes. Esperei pelas próximas eleições. Agora, tem gente que não sabe esperar. O Brasil vive um momento excepcional. Do ponto de vista da confiabilidade externa do país, da serenidade das coisas, nunca tivemos um momento econômico como o que estamos vivendo. Finalmente descobrimos a América do Sul. A estabilidade, para nós, já é uma garantia. Já está dada. Agora, é crescer".

CANDIDATURA: "Não decidi e não tenho pressa de decidir".

MINISTRO SUCESSOR: "O que eu disse é que no governo todos que estavam na mesa (durante a reunião ministerial) podem ser candidatos (a presidente nas eleições do ano que vem)".

PALOCCI CANDIDATO SAIRIA DO GOVERNO?: "Isso é bobagem. Não especulem sobre isso".

CRESCIMENTO DE DEZ OU 15 ANOS: "Temos uma combinação de fatores na política econômica, que nunca tivemos na História do Brasil, exportação, superávit em conta corrente, balança comercial, essa coisa tão positiva que a gente não pode permitir que o Brasil sofra um milímetro de retrocesso. Porque se consolidarmos isso, definitivamente, o Brasil pode entrar num ciclo de dez ou 15 anos de crescimento. Ele tem potencial para isso. Estou convencido de que a economia vai crescer fortemente no próximo ano".