Título: Caso da cueca fica sem punição no Ceará
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Fonte: O Globo, 21/12/2005, O País, p. 8

Palocci culpa o PT por carona em avião de empresário e também escapa de ser censurado por Comissão de Ética

BRASÍLIA e FORTALEZA. Mais dois casos do escândalo político foram considerados normais ontem. Em Fortaleza, a Assembléia Legislativa recusou o pedido de cassação do deputado José Nobre Guimarães (PT), irmão do ex-presidente do partido José Genoino, cujo assessor foi preso com US$100 mil na cueca. Em Brasília, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, transferiu ao PT a responsabilidade por ter viajado em julho de 2003 em avião do empresário Roberto Colnaghi, acusado de emprestar a aeronave para um suposto transporte de dinheiro de Cuba para o partido em 2002. A alegação foi apresentada à Comissão de Ética Pública do governo, em carta enviada no dia 12. A comissão analisou ontem as explicações, considerou-as satisfatórias e encerrou o caso.

Na Assembléia Legislativa do Ceará, houve 23 votos contra a cassação de Guimarães, 16 a favor, seis nulos e um voto em branco. Guimarães era acusado de quebra de decoro parlamentar por ter recebido R$250 mil das contas do publicitário Marcos Valério. Ele confessou que recebeu o dinheiro do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para pagar dívidas da campanha do candidato José Airton Cirilo, derrotado pelo governador Lúcio Alcântara (PSDB) em 2002.

Ministro disse que não infringiu código de conduta

Em novembro, a assessoria de Palocci informara que o ministro não tinha viajado no avião de Colnaghi. Para escapar do constrangimento de receber pedido de informações da Comissão de Ética, Palocci se antecipou, mandando explicações por escrito. Ele explicou que em julho de 2003 participou da filiação ao PT do prefeito de Ribeirão Preto (SP), Gilberto Maggione, e que a direção do partido arrumou o avião no qual viajou. O ministro disse que agiu "na certeza de que não infringia qualquer código de conduta". A Comissão entendeu que Palocci não infringiu o Código de Conduta da Alta Administração Pública, já que disse ter usado avião cedido pelo PT e não por particular.

- Ele foi convidado a participar de evento político-partidário, que pôs à disposição dele um meio de transporte. Isso está de acordo com as determinações da Comissão, que entendem que autoridades podem participar dessas atividades, mas não usar recursos públicos para isso. Ele comprovou que o partido pôs o avião à disposição - disse o presidente da Comissão de Ética, Fernando Neves.

Em depoimento à CPI dos Bingos, Colnaghi disse que em pelo menos duas oportunidades Palocci, já na função de ministro, usou seu avião Sêneca. Na ocasião, o empresário revelou que estava presente em uma das viagens, junto com o então presidente do PT, José Genoino. Ele contou que ia de Brasília para Penápolis, em São Paulo, e que Palocci e Genoino pegaram uma carona para Ribeirão Preto.